Estava a atender clientes, num momento, que havia umas três pessoas em fila. O espaço estava ocupado com o carrinho e duas pessoas a embalar, e outro carrinho cheio a seguir.
Chegam duas pessoas que querem passar pela linha de caixas, sem compras, e ali estavam a empurrar pessoas e carrinhos sem dizer nada. E ainda a acharem que as outras pessoas é que se tinham de se desviar para passarem. Digo que a saída sem compras é opor onde entraram, respondem que não estava lá nenhuma indicação e passam por ali, mesmo incomodando.
Em conversa com os clientes que estava a atender, comentamos sobre em alguns supermercados, a saída sem compras, ser pelas caixas, daí as pessoas não saberem, ou confundirem. As pessoas que estava a atender, sabiam da diferença de sair, sem compras pelas caixas e de sair pela devida saída, sabiam que está relacionada com o alcance dos produtos com alarme.
Vai então uma senhora diz:" mas qual é o problema de sair pelas caixas, se as pessoas não levam nada, não vai apitar na mesma!" É quando eu respondo "aí é que está o problema: as pessoas supostamente. não levam nada, supostamente"!
O supermercado onde trabalho, é um supermercado de média dimensão, uma cidade, rodeada de vilas e aldeias e até montes.
Há pessoas ligadas ao meio rural, que vivem em locais ermos e distantes, tipo onde judas perdeu as botas. As pessoas mais novas, com automóveis e meios de deslocação e com conhecimento de tecnologias, que apenas gostam de estar em contacto com a natureza, não têm certamente problemas. Mas depois há os velhotes, que sempre aqui escrevo sobre eles, e por tenho empatia. Estas pessoas recebem os cupões do continente pelo correio. Acontece, que na zona, os carteiros parecem ser escassos, e ainda costumam fazer greve. Então, estas pessoas estão muito tempo, além de isoladas, sem correspondência.
Um dia destes, um velhote habitual, confessou-me que não recebeu a carta da eletricidade para pagar, então cotaram-lhe a luz e teve de pagar para regularizar a situação. É triste que isto aconteça com as pessoas. É que a falta dos cupões do continente, nós ainda conseguimos ajudar, mas as contas para pagar, onde as pessoas não tem outra forma, complica a vida destes indivíduos.
Há situações que não dependem de nós, mas que nos afetam.
Então, neste dia as coisas até estavam a funcionar, mas num ritmo mais lento. A culpa não era nossa, era do sistema. a maioria dos clientes mostrava-se compreensiva, mas havia sempre uma ou outra pessoa, que reclamava.
Fico um pouco stressada se vejo as pessoas á espera, e as coisas estarem num ritmo mais lento. Resolvi lembrar-me de uma voz amiga que me ensinou a pensar assim: "O que está a acontecer, é por minha causa? Não! Posso fazer alguma coisa para mudar a situação? Não! Se ficar mais stressada, as coisas avançam mais depressa? Não!" Durante algum tempo recordei isto e consegui estar tranquila. Depois o sistema melhorava, depois voltava ao mesmo, ou seja, com altos e baixos. Acreditem que é também complicado para nós, trabalhar assim!
Esperemos que isto tenha sido um episódio isolado, já que dezembro é o mês mais agitado do ano , no supermercado, pela minha experiência!
Aqui há uns anos, talvez no inicio de começar a trabalhar neste supermercado, havia uma placa a dizer saída sem compras, agora já não existe.
Muitas vezes, os clientes ficam sem saber por onde sair quando não compraram nada, porque não há uma indicação, e porque em alguns supermercados a saída é pela linha de caixas. As pessoas que estão a ser atendidas têm que se desviar, para o cliente sem compras passar!
Embora, a maioria das pessoas nem reparem nem respeitem indicações, cartazes ou informações, se calhar fazia falta. Quando as pessoas perguntam, logo respondo. Também, por não saberem ou por influência de outros supermercados, vão com cuidado e pedem licença, mas a maioria nem pergunta, empurra quem estar a ser atendido e passa!
Voltei a este assunto, porque vi recentemente um cliente sem compras a esbarrar na cliente que estava com o carrinho encostado ao tapete, não havia ali espaço para passagem, mas a pessoa quase atirou com a senhora ao chão e saiu sem pedir pelo menos, desculpas!
Perguntam imensas vezes. E nós respondemos, eu pelo menos faço-o diversas vezes, que os cupões não são iguais para todos os clientes. Porque é mesmo assim, há clientes que recebem cupões consoante os artigos, há clientes que recebem 10% no total, outros €5 em compras de €20 ou até outros. Não sei qual o critério de quem faz os cupões, apenas sei, e muitos clientes também sabem, que é assim que funciona. Já funciona assim, há anos!
Cada cliente, tem de tomar conta dos seus cupões, dos seus descontos, das suas contas. É tudo uma questão de se organizarem.
A operadora de caixa não tem como adivinhar os cupões que receberam pelo correio ou na aplicação.
Ou então ao entrarem vejam no dispensador se têm cupões, ou mesmo no telemóvel, para quem tem a app do continente!
Imaginem uma cliente dizer" ó menina os cupões que lá tenho em casa, dão para esta semana" Resposta: "Mas eu frequento a sua casa!? Como quer que eu saiba"!? Ou então: "Se a senhora não sabe o que tem em casa, como é que eu hei-de saber"!
Ou então a operadora de caixa pergunta se tem cupões e a resposta do cliente : "Ah, não sei, devia de ter?" Ora dá vontade de responder: "Eu sei lá, você é que tem de saber. Pode não ter, pode já ter usado!"
Ou então faço a pergunta e a cliente desata a correr direito ao dispensador, deixando a fila parada!
A intenção da pergunta, é lembrar ao cliente, que se tiver cupões, pode entregar!
É que o continente tem tudo tão bem programado, ou seja, envia cupões pelo correio, tem um dispensador para imprimirem uma segunda via, tem a aplicação, ainda envia SMS. Será que cada pessoazinha não pode só fazer a sua parte!?
Esta campanha, não é nova no continente. Costuma acontecer agumas vezes durante o ano. Julgo que é habitual neste mês de março, depois também acontece em setembro, e na altura do natal. Não sei, se me está a faltar mais alguma data.
Para que o desconto aconteça, o cliente tem de apresentar o cupão, que é entregue por carta, pelo uso da aplicação ou ainda imprimido no dispensador. Se lerem bem os cartazes que estão expostos, está lá escrito que o desconto é feito mediante a apresentação do cupão. Também está escrito as datas em que tem de entregar o cupão e as datas em que terá de depois usar o saldo!
Já se processa assim há alguns anos. Mas parece que alguns clientes, ainda não perceberam a dinâmica, mas não há problema, eu explico tudo sempre a cada cliente!
No entanto, houve um cliente que quando eu lhe disse que tinha de utilizar o valor acumulado entre do dia 7 e o dia 13 de março , originou o seguinte dialogo:
Cliente: Está dizer-me que eu sou obrigado a vir cá nessa data para descontar o dinheiro!? ( mas diz isto em tom altivo e meio zangado)
Eu: Não! O senhor não é obrigado a vir cá! O saldo é que só vai estar disponível nesta data! O senhor pode vir quando quiser!
Até pensei que fosse responder alguma coisa, mas não. Despediu-se e foi embora! Espero que tenha entendido o recado!
Ontem atendia uma cliente habitual, por quem já tenho alguma afinidade, pois já são alguns anos de convivência! Sei que tem três netinhos, que vivem longe, e uma filha que de momento estava cá na terra com ela.
A dada altura, a senhora dá-me um cartão continente e diz-me "pode ver se este cartão tem saldo, é que encontrei o lá em em casa, era da minha filha!" Eu passo o cartão, e vejo que está inativo. Digo à senhora o estado do cartão. Ela diz-me: "então pode por no lixo!" E eu respondo: "mas se é da sua filha , ela pode ativá-lo"!
Quando a senhora me diz que a filha tinha morrido no final de março, eu fiquei pasmada! Eu sabia que a filha da senhora estava a tratar-se de um cancro , mas costumava vê-la por lá com ela, julguei que estava a recuperar, parecia melhor.
Fiquei chocada, sem saber o que fazer. Disse-lhe que lamentava muito, e lá deu para ficar um pouco a falar com a senhora.
Preciso de clarificar aqui uma situação, devido a um comentário que recebi.
Mesmo que por vezes aparente que são tantas as situações negativas que acontecem que parece que a qualquer altura vou cair, não é bem assim! Ao fim de tantos anos nisto, já estou vacinada . Apenas fico sentida no momento, mas depois venho para casa, se tiver, tempo e vontade ainda partilho as ocorrências. Contudo, no dia seguinte já estou fresca e pronta para outra! É tipo uma fénix, que renasce das cinzas.
Se partilho as situações não é só para meu desabafo, mas também para que sirva de lição e exemplo a que me lê, ou para quem passa pelo mesmo! Isto porque agora tenho umas quantas colegas que me lêem na página do Facebook, e é tão bom!
Por isso eu não preciso de ficar na retaguarda, porque, como disse alguém, aquilo que não nos mata, fortalece-nos!
Digo a uma cliente que estava literalmente encostada a outra , para se afastar só um bocadinho, ao que ela responde: "pois mas só se preocupam com isso aqui, ali atrás estava um a bater com o carrinho dele no meu e não foi lá ninguém falar!"
Mas será que é preciso andar aí um policia de bastão na mão a controlar todas as pessoas? Será que as pessoas não sabem ser responsáveis!? Claro que isto do bastão, só pensei para mim, apenas disse que as pessoas também têm de ser responsáveis.
Entretanto uma senhora disse-me que numa localidade no Alentejo anda alguém a controlar a proximidade das pessoas no supermercado, quando alguém está muito próximo, pedem para que façam distanciamento.
Enfim, por vezes parecemos ovelhas que precisamos de um pastor, se não, ficamos desordeiras!