Este dia dedicado aos operadores de caixa é importado, mas não faz mal, nós o adotamos, também.
Feliz dia do/a operador/a de caixa, a todos os que, tal como eu, estão no atendimento ao público, com dedicação, tolerância, paciência, empatia. Nem sempre é fácil, por vezes, somos vistos/as como robôs que executam tarefas repetitivas, recebidas da empresa. Mas acho, que somos muito mais que isso, somos amigas, confidentes, trocamos ideias, ouvimos histórias, acompanhamos situações.
Pela minha parte, deixo também um agradecimento aos clientes, pela compreensão, amizade e empatia.
Um cliente diz-me qualquer coisa, que não percebi, questionei, mas não me respondeu e continuou a falar.
Pensei que me podia estar a pedir alguma coisa, então disse: "desculpe, não percebi"! É quando a pessoa responde, tirando o cabelo que tapava o auricular. " não estou a falar consigo!"
Não é fácil fazer um atendimento por mímica para não incomodar!
Uma cliente habitual levava o seu carrinho bem recheado. Levava carne, peixe, marisco, bacalhau, e outras coisas mais. Conversa puxa conversa, e ela diz-me que algumas de nós são como família para ela, pelos anos de convivência, o que me deixou emocionada!
Quando vejo o total, o valor passa dos quatrocentos euros. Não era um resultado habitual, então enquanto a senhora terminava de embalar, fui puxando no ecrã para ver se me teria enganado e repetido alguma coisa ou multiplicado mal, alguma quantidade.
Quando digo o total à senhora, a resposta foi : " ai não pode ser, deve de haver algum engano, nunca gastei tanto assim no continente!" Preocupada voltei a verificar, mas com a pressão de ter pessoas em espera, não dava tempo para confirmar um a um todos os registos. Então, eu pedi à senhora que confirmasse tudo, e que, se alguma coisa estivesse mal registada, viesse falar comigo.
A senhora entretanto desapareceu do meu ângulo de visão, foi certamente arrumar os produtos ao carro.
Daí a momentos, chega até mim, com o talão na mão. Pensei logo, que certamente tinha cometido algum erro.
Mas não! A senhora veio ter comigo, apenas para me dizer, que não ficasse preocupada, pois estava tudo correto!
Estava a atender duas pessoas. Pelo que me deu a entender, uma das pessoas vivia em Portugal e a outra seria emigrante e estava de visita.
Estavam a discutir quem ia pagar, porque ambos queriam pagar. O pagamento era com multibanco, pois cada um tinha o seu cartão. Um empurrava o outro, o outro também empurrava. Entretanto, com o encostar do cartão, alguém pagou e o talão saiu, ainda eles estavam a discutir quem ia pagar, quando eu digo que já alguém pagou! "Quem?" Perguntam, ao que eu respondo "não sei, mas a conta está paga, e foi um dos dois cartões!" Diz um para outro "às tantas ainda pagamos duas vezes!" Mas eu assegurei-os que isso não seria possível, que o sistema não permitia! Ainda lhes disse para irem ao multibanco confirmar!
Espero que se tenham entendido e aprendido a lição!
Um cliente que levava três garrafas de azeite, disse em jeito de brincadeira, que devido ao preço que está o azeite, estava com medo de ser assaltado, por levar logo 3 garrafas!
Por vezes, ao vermos que as filas têm algumas pessoas em espera, queremos , nos despachar mais depressa, mas nem sempre é possível, porque há tempos que não podemos saltar. Há o tempo de saber se é com ou sem contribuinte, se há cupões, se o pagamento é em numerário ou em cartão, se querem descontar o saldo. Acredito que todos compreendem isso.
No entanto, há momentos em que estar a contar um monte de moedinhas pequeninas, é daquelas coisas, que só atrapalha. Então eu disse à cliente que já não era preciso mais moedas, que o valor já estava certo, mas ela queria substituir moedas de cinquenta cêntimos, por moedas pretas, então perante o facto de eu não estar a contar mais aquelas moedas, diz em voz bem alta "mas eu quero me livrar dos pretos!" Por mero acaso, no fim da fila estavam dois rapazes negros que ficaram a olhar. O cliente que estava entre eles riu-se e abanou a cabeça!
Felizmente a cliente lá foi feliz da vida porque conseguiu se livrar dos pretos dela!
Estou a atender uma família já habitual. Uma mãe, uma avó e um menino, o netinho. É o menino da família!
Das últimas vezes, que os atendi , o menino não estava. Por isso quando o vi disse-lhe "olá , já algum tempo que não te via por cá!" Ao que ele me contou que esteve doente, tinha sido operado a um apêndice.
E ali fui conversando com o menino, enquanto atendia as senhoras. O menino estava a olhar fixo para o ecrã, e diz-me "estou a ver quantos selos a mãe vai ganhar", digo o total, que por acaso era 190€, ele olha para mim, e pergunta-me quantos selos dá, eu que sou zero a matemática, fico em silêncio por uns segundos e ele responde: "9 selos"! Impressionante porque é um menino bastante novo. "És bom a matemática", digo-lhe. Pergunto se vai para o quarto ano, ao que ele responde: "vou para o segundo, só tenho 7 anos!" Respondo admirada: "só tens 7 anos?" E ele diz "então que idade pensavas que eu tinha!? " Respondo: "Pensei que tinhas mais, tens uma maturidade tão grande, és tão inteligente, pensei que tinhas mais!" E a mãe confirmou a idade!
A nossa conversa continua. Ele conta-me que já tem uns quantos pratos, uns quantos copos. Então digo-lhe: "Ena já tens enxoval, já podes casar, tens namorada"! Responde de imediato: "Tenho sim, dança comigo no racho! " E depois ainda conta mais alguma coisa, sobre a namorada.
Diz a mãe a sorrir : "conta a vida conta"! E continuou a falar, a falar. Foi uma lufada de ar fresco que eu tive naquele dia, naquele momento. Há crianças mesmo especiais, e tenho tido a sorte, e o privilegio de poder de socializar com elas!
É para mim, um certo stresse, estar a chegar à caixa, ter o posto para organizar, as moedas por abrir, e precisar ter a certeza que está tudo nos conformes para chamar os clientes, e as pessoas começarem logo a perguntar: "vai abrir, vai abrir"!?
Imaginem que eu digo, "podem ir pondo os produtos" e depois haver uma avaria na impressora ou no sistema e as pessoas terem de retirar os produtos!? Além disso, as pessoas têm que vir por ordem de fila, não é haver pessoas já nas filas e alguém acabado de chegar, ser logo atendido, não pode ser, há regras!
Houve recentemente, um dia, que uma pessoa fez a pergunta e eu disse que ia atender por ordem de fila. Assim sendo, chamei e vieram clientes que estavam nas filas de outras caixas.
Essa pessoa voltou lá e confrontou-me com a situação dizendo "daquela vez, as pessoas estavam lá paro o fundo, podia me ter atendido, que nem davam conta!" Respondi: "Ah mas eu gosto de cumprir as regras." Ainda procurei a câmara, a ver se era para os apanhados!
Estou a atender um casal de carrinho cheio, com um filho. Uma criança muito educada, e, no meu ponto de vista, sobre dotada!
Educadamente, perguntam-me como faço para o tapete andar, chamo-o para vir ao pé mim, mostro-lhe o botão e explico-lhe que à medida que vou tirando os artigos o tapete vai andando automaticamente. "Muito obrigado por me teres explicado, pois sempre quis saber!" Os pais dizem-lhe para se calar, mas ele só queria conversa.
Começa a dizer como se calcula a raiz quadrada dos números, dizendo que está no terceiro ano, mas que já sabe coisas do 12ªano. Digo-lhe que matemática é o meu ponto fraco! Então ele prossegue, dizendo "então e capitais sabes?" Eu digo "algumas"! Logo a primeira que ele me pergunta, fico a patinar, então ele responde. Depois vai perguntando, e eu, como boa aluna, lá vou respondendo, e a cada resposta certa ele, faz-me um ok com o polegar. Os pais vão dizendo para ele se calar, mas ele estava tão entusiasmado e divertido, quanto eu!
Alegrou tanto o meu dia. Gostava tanto de o voltar a ver ! Já ele não estava lá e sempre que me lembrava dele, dava-me vontade de rir!
Que criança adorável, educada, inteligente, divertida, curiosa!
Já aqui fui criticada, por cismar com os sacos que os clientes trazem de casa e os levam no carrinho de forma suspeita, mas continuo a ter motivos para essa cisma!
Aconteceu com uma senhora, uma cliente já aí com uns 60 anos, depois de colocar as compras, passa com os sacos de uma forma que enchia o carrinho, e diz-me: "pronto , o que agora aqui vai, são só sacos!" Eu digo à senhora "sim, mas nós temos de ver "! Dou a volta para ir ver e encontro artigos congelados num saco de congelado, mas com outro saco por cima, eram montes de artigos congelados, encontro outro saco com pistácios e outros aperitivos, ia levar tudo sem pagar! E enquanto eu descobria esses artigos, ela ia apressadamente arrumando os outros. Não demonstrou qualquer arrependimento ou vergonha e eu é que fiquei nervosa!
Foi uma situação, que apesar de fazer parte do quotidiano do supermercado, me surpreendeu e enervou. Claro que comuniquei a situação a quem devia.
Deveria haver um sensor que captasse imagem na passagem do carrinho de compras, e, depois no nosso ecrã, existir uma forma de aparecer um RX do interior do carrinho, como naqueles tapetes do aeroporto por onde passam as malas dos passageiros. Muitas vezes, os clientes não querem mostrar os sacos , outros ficam ofendidos de pedirmos. Mas também podia acontecer eu ter feito aquele passo de ir espiar os sacos da cliente, e não ter razão e depois eu é que ficava mal. Acho que foi um feeling, porque a senhora não tinha nada ar de ladra!
Continuo a dizer que quem não deve, não teme. Tem é que haver educação e cordialidade entre operador e cliente!