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A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

Os clientes que não gostam de mostrar os sacos que trazem de casa

Estava a atender um casal, talvez na casa dos 65 anos.

A senhora passou para o lado de saída para arrumar os artigos, o senhor ainda estava com o carrinho no lado de recepção dos artigos. Quando este estava a empurrar o carrinho para a esposa, e como levava os sacos em formato de balão uns sobre os outros, levantei me para espreitar o seu interior. O senhor, muito ofendido, pergunta-me se estou a achar que ele leva coisas lá escondidas. Digo-lhe que estou a fazer o meu trabalho e aponto para um escrito que lá está, onde pede para os clientes colocarem todos os sacos, inclusive os que trazem de casa, em cima do tapete.

Mas ele continua a reclamar. E pergunta de novo se  acho que alguém ia levar lá alguma coisa. Como já estava a ser desagradável e não respeitar uma regra da empresa, respondo "não seria  nem o primeiro, nem o segundo, nem o décimo!" E ele volta a dizer mas "Mas eu!?"

Eu respondo que não o conheço, e mesmo que conhecesse é uma norma igual para todos.

A esposa disse- lhe "deixa não vale a pena"! Como se eu é que estivesse errada na atitude!

Também lhe disse que não percebia a atitude dele e que quem não deve não teme. 

Uma colega viu a situação, e até lá foi perguntar se estava tudo bem e se eu precisava de alguma coisa. Talvez tenha sido aí, que o senhor baixou a guarda.

Não sei quem era o senhor, se calhar alguém famoso ou conhecido, mas não para mim. Para mim era um cliente. Um cliente que não gosta de respeitar regras, pessoas, que não teve uma boa formação. Mal educado, mesmo. 

Mas esta situação acontece muitas vezes. Ainda há dois dias uma senhora me disse que as pessoas do Cartaxo são muito desconfiadas dos clientes. Respondi, "pois infelizmente temos razões para isso"! E ela respondeu que em Santarém confiam nas pessoas.

As pessoas não sabem, ou não querem saber, ou até lhe dá jeito que não se observem os sacos.

Também há dias, se eu não tivesse pedido para ver os sacos, a cliente levava peixe sem pagar, pois só quando fui ver os sacos é que me disse " ah também está aqui o peixe"! E já estava no lado de saída. Se eu fosse aqui a enumerar os artigos que já tentaram passar sem pagar, infiltrados nos sacos...

Se todos os supermercados tivessem esta norma, iam se surpreender com a quantidade de artigos que se infiltram por baixo dos sacos, por dentro, de lado e até entre os que estão dobradinhos. Quem nos dera que os clientes mostrarem os sacos fosse uma norma geral e obrigatória em tos os supermercados. Iam ver o número de roubos/quebras a descer.

Até parece que nós é que somos os desconfiados, os cliente têm sempre razão, são sempre corretos, bem formados, bem educados e nunca levam nada sem pagar, a não ser que o artigo lá vá cair...

Enfim, haja paciência!

sacossobreotapete.jpg

Uma situação daquelas...

Já por muitas vezes me comovi em situações em que os clientes não tinham dinheiro suficiente para pagar as compras. Algumas vezes velhotes reformados. Mas a situação recente foi diferente. Era uma senhora ainda jovem com os seus três filhos pequenos. Um ia entrar na primária e os outros dois na creche. No final da conta (material escolar c/ factura), a senhora não tinha dinheiro suficiente porque o tinha esquecido em casa. As crianças corriam nos corredores ela pedia a um para tomar conta de outro, depois deu falta de um... enfim coitada da senhora, ali na fila a dar voltas á mala a procurar dinheiro, vários olhos postos nela. Depois dizia:" estes miúdos põe-me doida, já nem sei se perdi o dinheiro ou se deixei em casa!" - eu respondi: " pois se um já dá tanto trabalho, imagino três!" e sabem o que ela disse? "-Pois mas eu ainda tenho outro, um bebé!" A senhora tremer de nervos disse finalmente: "- Olhe vou ter de deixar aqui as compras, guarde-mas, por favor! Vou a casa e já volto". Eu percebi o desespero da senhora e num impulso perguntei se faltava muito dinheiro, depois de contar os trocos o que faltava era muito pouco. Então eu disse á senhora para ter calma, para ela levar as coisas, a factura e que aguardava que ela viesse trazer o restante. Já não era a primeira vez que via lá aquela senhora, e fiquei convicta que ela voltava para pagar, pois todas as pessoas sabem que se faltar dinheiro não é do bolso do poderoso patrão, mas a responsabilidade é da operadora de caixa. Eu sei que devia mesmo assim pedir autorização á minha chefe para fazer isto, pois não o podemos fazer, mas foi mesmo um impulso...

 

Cerca de meia hora depois, ali estava á minha frente a senhora já sem as crianças e bem mais calma com o valor que faltava e agradeceu-me a confiança e a disponibilidade. Ainda me disse que tinha deixado o dinheiro em casa, e que as crianças e o cansaço a tinham atrapalhado. Eu também lhe agradeci e ficou tudo bem. Sei que quebrei uma regra mas também sei que foi por uma boa causa e que não prejudicou ninguém (se prejudicasse seria apenas a mim)!