Velhinha simpática e atenciosa
Eu não sou boa fisionomista, é certo. Esqueço-me facilmente da cara das pessoas, mas não é de agora, sempre fui assim, infelizmente. Talvez sofra de um distúrbio como nome de Prosopagnosia. No entanto, por vezes, dou conta, de que já passou algum tempo, que não vejo, um determinado cliente. Quando se trabalha numa cidade mais pequena, há caras que fazem parte da casa.
Há dias uma velhinha super atenciosa foi à minha caixa. Fiquei feliz de a reencontrar, e ela também de me ver. Esta senhora que já deve ter bem mais de oitenta anos. Recordo-me que um dia olhou para mim e elogiou o meu cabelo, e disse-me que quando era nova, também tinha assim os cabelos grandes e fortes. Depois disse-me que a maior pena que tinha era de estar a ficar sem cabelos.
Apesar de tudo, envelhecer, não é mau, porque é um privilégio, só concedido a alguns, o mau, é faltar a saúde, perder o cabelo, os dentes, a memória, a capacidade de andar, etc.
Lá ficou a contar-me coisas da vida, com a sua voz trémula e doce. despediu-se atenciosamente, como sempre.
Nós vamos nos afeiçoando a este tipo de pessoas, que nos tratam tão bem. É nestas alturas que seria bom a existência de uma caixa lenta, como já aqui falei.

