Como já aqui referi, no supermercado onde trabalho, costumo atender pessoas conhecidas que aparecem na televisão: actores, actrizes, cantores, apresentadores, políticos, desportistas. Por vezes, sou tão distraída e má fisionomista que nem me dou conta, só depois fico a saber quem era aquela pessoa!
Normalmente o atendimento surge como qualquer cliente normal, apenas trocamos as palavras necessárias e habituais. Posso até ficar mais nervosa se souber quem é, por ter receio de errar alguma coisa. Mas para eles sou apenas a pessoa que lhes vai registar as compras e a quem eles vão pagar no final, nem dão muita conversa.
Um dia destes, chegou à minha caixa um casal de actores (já não era a primeira vez que os atendia), com a progenitora de um deles. Devo confessar, que foram extraordinários. Foi uma grande emoção para mim atende-los. Foram super simpáticos, conversaram imenso comigo. Mostraram imenso deles, não se importaram de através da conversa e das compras que levam darem a conhecer uma boa parte deles. O amor e cumplicidades que une aquele casal, suponho que seja daqueles amores para a vida toda! Foram momentos únicos, divertidos! São tão simpáticos! Ela é linda, mais bonita ao vivo, ao natural do que na televisão e na novela que está a passar na TV no momento. É tão educada, brincalhona, divertida! Fizeram-me rir com as suas brincadeiras...
É claro, que como sempre foi o meu lema, conto as histórias, mas não revelo os nomes dos protagonistas!
Foi tão gratificante para mim. Se os encontrasse noutra ocasião, que não esta, não teria coragem de pedir um autografo ou uma foto, mas gostava. Pois se já era fã, ainda fiquei mais. Só tenho que lhes agradecer, por momentos tão felizes e bem passados!
Graças a Deus que de entre alguns clientes desatinados, existem os de bom coração. Os que nos retribuem o cumprimento e a despedida. Aquele cliente de todos os dias, que não nos esquece, que pergunta sempre se está tudo bem. Que tem sempre um “bombom” para nos adoçar o dia. Que até nos oferece uma bolacha do pacote aberto. O cliente que nos entrega o dinheiro em mão. Que nos diz obrigada.
Uma cliente já depois de ter pago a conta na caixa de uma colega que já tinha saido, foi ter comigo à minha caixa com um talão.
Cliente: Olhe estes biscoitos não estão em promoção!?
Eu: Não sei, só vendo...
Cliente: Estão pois, venha lá comigo ver!
Eu: Eu não posso sair daqui sem autorização, aguarde só um momento que vou chamar alguém!
Naquele momento não estava a conseguir chamar a minha colega.
Esta cliente vê um colega da Worten a passar e diz:
Cliente: Aquele colega, não pode lá ir!?
Eu: Não, aquele colega é da Worten!
Nisto passa uma colega de trabalho com um carrinho, que tinha um casaco por cima da farda...
Cliente: Está ali uma senhora, não pode chamá-la!?
Eu: Não, aquela colega está na hora de almoço!
Cliente: Ah, também ia lá num instante, mas está bem!
Nisto chega a minha colega, chamo-a e esta senhora vai logo na sua direção
Foram uns breves momentos, mas stressantes , esta senhora, queria...porque queria alguém, não era capaz de esperar, parecia que queria mandar, e afinal, o preço dos biscoitos estava correto!
Um cliente habitual (entre os 55/60 anos) marcava o código e a mensagem era sempre a mesma "código errado", mas o senhor insistia que era aquele código. Eu disse-lhe para ter atenção porque ao fim de tantas tentativas se fosse ao multibanco ficava lá o cartão. O senhor começou a ficar atrapalhado e preocupado e ao mesmo tempo incomodado porque quem estava na fila olhava para ele, talvez porque estavam com pressa, ou até com pena do senhor. Coloquei a conta do senhor em espera, e guardei-lhe o carrinho das compras, enquanto o senhor procurava uma solução.
Entretanto, o senhor foi à caixa do multibanco e o cartão, tal como eu suspeitava, ficou lá dentro. Veio me dizer que tinha de ir a casa.
Um dos senhores que estava na fila, quis ter graça e disse "não deve é de ter lá dinheiro", claro que o defendi, pois do que conhecia daquele cliente, sabia que não era esse o caso ...
Voltou tempo depois com o dinheiro e disse que tinha trocado os pares de dígitos. Não sei como chegou a essa conclusão, mas suponho que tenha falado com alguém ou que tenha anotado o código em algum lugar em casa. Disse-me que estava tão convencido que estava certo, que nem colocou outra hipótese. Desculpou-se pelo facto, e eu disse-lhe que são coisas que acontecem a qualquer pessoa.
É mesmo verdade, esta situação pode acontecer a qualquer um de nós! Quantos de nós já trocamos o código, principalmente quando temos outros códigos, ou até já nos deu uma branca e simplesmente nem nos lembrarmos de nada...Eu já me esqueci do meu e também já troquei os dígitos! Acho que não é sinal de estarmos a ficar senis. Apenas são momentos...
Por vezes tenho momentos no meu trabalho, que me fazem sentir bem. Gosto de falar com todos os clientes, mas há aqueles que são especiais. Têm alguma característica que os diferencia dos demais... Hoje esteve lá um senhor, que é actor de teatro. Já falei dele aqui numa ocasião em que eu estava rouca (constipação) e ele me aconselhou uns truques para recuperar a voz. É uma pessoa já vivida e com uma cultura, que dá gosto falar com ele. Eu aprendo sempre umas coisas. Ele fala comigo sem altivez ou presunção. Conseguimos ter um dialogo super interessante e até o casal que estava a seguir interveio na conversa. E eu que até estava com a auto-estima um pouco em baixo, e fiquei muito bem disposta por poder ter uma conversa inteligente e enriquecedora. Há dias assim...