Estou a atender uma senhora com o seu filhote de cerca de três, quatro anos. Acho graça ao miúdo e meto conversa, só que ele tinha a boca cheia de gomas e não conseguia responder, reparo que também tem gomas na mão. E diz a mãe: "ah ele já foi roubar gomas!" E ri-se. Não eram gomas de um pacote, que tinha aberto e depois ia pagar, mas sim daquelas que se vendem em avulso, que as pessoas trazem num saquinho e depois nós pesamos na caixa...
Será que custava muito esta jovem senhora, dizer ao menino que tinham de por as gomas no saco e dar na caixa para se pesar e pagar, porque não se rouba!?
Com a cara que eu fiz, julgo que a senhora entendeu o desagrado!
Confesso que o que mais me custa neste trabalho é o facto de os horários nem sempre serem compatíveis com a vida familiar. Particularmente com a minha função de mãe, Com os horários escolares do meu filho, pois como ele ainda não consegue abrir as portas para entrar em casa, está dependente da hora de eu o ir buscar à escola. Sim, porque é preferível ele ficar na escola, do que à porta do prédio. E não, não há ninguém que possa ajudar, não há vizinhos, nem amigos, nem avós, pois uns estão longe e outros também estão a trabalhar. Isto acontece, dois dias por semana. O facto é que, por vezes fica tantas horas sozinho à espera, que me deixa preocupada e estar a trabalhar com esta preocupação, é um stresse.
Começo a registar artigos e vejo que é uma criança que está a colocar as compras no tapete. Uma criança pequenina, mas daquelas muito desenrascadas, e muito despachadas, cheia de genica. Disse-me logo que a mãe tinha ido buscar qualquer coisa. Perguntei-lhe como se chamava, e ela respondeu, mas perguntou logo "e tu?" Depois, a mãe ia a passar pela minha caixa e foi a menina que chamou a mãe:" é aqui mãe"!
Até parecia que a situação se tinha invertido e que a pequena é que estava no papel de mãe!
Uma cliente (daquelas que não é frequente ver ali) com a sua filha aí de uns três anos de idade, pede-me para olhar pela menina enquanto vai buscar um artigo que se esqueceu. E deixou a menina sentada num carrinho daqueles azuis que não têm o compartimento para sentar as crianças! Como é próprio da idade, a menina não estava sossegada e precisava de cuidados para não cair. Tive de parar o registo e assegurar-me que a menina não ia cair. A mãe que fora buscar um artigo, acabou por trazer mais artigos e demorar-se um pouco mais. Talvez por ser bastante nova, fez tudo descontraída, ou então sou eu que estranhei porque sou mãe galinha!
Na fila para a caixa do supermercado, há sempre uma conversa ou outra. As ditas conversas de circunstância. Neste caso, estavam aí umas três pessoas na minha caixa, e o ambiente calmo. Estava uma menina já crescida com a sua mãe.
A certo momento a menina tira da mala da mãe um porta chupetas com três chuchas, e começa a chuchar ora numa ora noutra. Uma senhora que estava na fila diz : "uma menina tão crescida ainda de chucha" (Podia ter sido eu a usar esta frase, pois também pensei o mesmo)!
É então que a mãe da menina responde com um ar todo decidido: " Ela tem este tamanho, mas tem apenas SEIS aninhos e feitos há pouco tempo!" Pois, ninguém respondeu. Acho que tal como eu a outra senhora ficou a pensar: " seis anos? E não era altura de largar a chucha? Depois vai ter de por aparelho nos dentes!"
Chega à minha caixa uma cliente já habitual acompanhada do seu filhote de 7/8 anos. Este rapaz vinha a jogar com a sua PSP portátil e tentava dar nas vistas. Foi então que eu disse :
-Bem, o Pai Natal
este ano foi muito generoso! Foi o Pai Natal certo?
Responde: - Não foi o meu pai...
Continuei a passar os artigos e a conservar com este pequeno, ele tem uma conversa interessante.
Conversa puxa conversa, e ele está a contar as prendas que teve e de repente vira-se para a mãe e diz:
- Ó mãe tu não me deste nada!!!
A senhora começa a rir com um ar meio atrapalhado: " mas eu dou-te coisas todos os dias!"
Pensei: " ups mais valia estar calada, agora o puto não se vai calar enquanto a mãe não lhe der alguma prenda"! O que vale é que acabamos todos a rir da situação!
Já na fila, e quase na sua vez, mãe e filho trocam beijinhos. “Mãe sabes…eu gosto muito de ti” “E eu de ti, meu amor”! Que ternura aqueles dois. Até que o menino diz “então mãe podias me comprar…um chocolate…” Toda aquela doçura do pequeno trazia água no bico. Aquela mãe não conseguiu resistir… As crianças tem cá uma escola! Conquistam-nos de uma maneira tão subtil…
Hoje, por ser o dia da mãe, registei na minha caixa muitos perfumes, bombons, bibelôs. Por ser dia da mãe muitos clientes jovens foram ao supermercado. No fim de pagarem os artigos perguntavam: " fazem embrulhos?"