Podem achar, que por eu partilhar, em maioria, as situações mais caricatas ou menos boas que surgem com os clientes, sejam essas as que mais acontecem, mas não! Não é assim! Há muito mais situações positivas, normais, só que por serem tão comuns e vulgares, eu não lhes dedico tanto tempo antena!
Mas, quero dizer que sou muito grata, pela forma como a maioria dos clientes me tratam, pelo respeito, pela valorização, e pelas palavras amigas, que tantas vezes me salvam o dia.
Todos os dias quando saio do trabalho, tenho plena consciência que dei o meu melhor, e que fiz de coração. Claro que o dinheiro no fim do mês também me dá jeito e também trabalho por ele, mas também gosto muito de fazer o que faço!
Perguntavam-me num destes dias, porque digo que gosto do meu trabalho se é monótono (na minha opinião, poucas coisas são monótonas), se trabalho aos fins semana e feriados, se, se, se...
Ora então, talvez o segredo esteja no part-time, e isso permite-me que o tempo que estou a trabalhar, dê toda a minha disponibilidade, energia e atenção! Metade do tempo dedico-me ao trabalho, outra metade à família (estive mais presente em todas as fases de crescimento do meu filho), a outras actividades (no meu caso voluntariado) e até a descansar, porque tendo fibromialgia, por vezes, é preciso fazer uma pausa! Consigo gerir bem o meu dia, mesmo que trabalhe num domingo, nunca é o dia todo, por isso não me queixo, é tudo tranquilo!
Felizmente os clientes percebem que não estou ali contrariada, mesmo que seja domingo de Páscoa! É bom saber que é essa minha disponibilidade que passo aos outros!
Claro que ganho menos que um full-time, e o dinheiro tem que ser melhor gerido, mas tem outras contrapartidas. Felizmente posso ter este pequeno luxo!
Nos primeiros tempos da minha vida e até aos meus 20 anos de idade, sonhei ser professora de primeiro ciclo. Em miúda, sempre que iam crianças à minha casa, incluindo os meus primos mais novos, eu dava papel e lápis e punha-os a escrever. Mas tudo não passou de um sonho, que não foi possível concretizar!
Entretanto, com esta profissão de contacto com o público, e quando surgiram os livros, algumas pessoas me aconselharam a fazer uma formação em sociologia, porque tinha jeito.
No meu imaginário, eu vou para a universidade, que foi algo que sempre quis, faço sociologia, mas volto para o supermercado, crio uma caixa especial, " a caixa da socióloga", uma caixa , onde não há pressa, onde atendo quem tenha tenha vontade de conversar um pouco. Uma caixa mais lenta, mais virada para a humanidade, para os mais velhos, para quem tiver tempo, e juntava esta minha capacidade, ou dom, com estudo e formação!
Não é só o gosto e o amor à profissão de operadora de caixa, de que faz parte o público, o atendimento ao mesmo, a boa relação com os clientes. Também há outras coisas, tais como: o facto de ter bons colegas, o espaço interno do colaborador ser muito fixe.
Temos a mesa da partilha, cafezinho gratuito, entre outras coisas mais.