Estava a atender uma senhora, uma velhota castiça, que eu já há algum tempo não encontrava. Que feliz eu fiquei de a ver bem. Foi muito querida comigo, aliás como sempre.
Levava alguns frasquinhos , de sabonete, de gel banho, uns que têm um manípulo que temos de rodar, e que depois funciona com um clic. Muito educadamente pediu-me se eu os podia abrir, porque ela não era capaz. Na imagem, o primeiro está fechado, e o segundo aberto, depois de rodar!
A primeira coisa que pensei foi que nem eu própria ás vezes consigo, mas prontifiquei-me a ajudar, apenas questionei se depois não vertia o liquido pelo caminho, ela assegurou-me que não!
Felizmente consegui, ela ficou agradecida e eu satisfeita por poder ajudar. Mas, de facto, estes manípulos podem até ser seguros, mas não são fáceis!
Há uma senhora, já com alguma idade e muito debilitada que vai, creio, uma vez por semana, fazer as suas compras. Vai com o filho que conduz, mas que não pode estar de pé, então fica a aguardar no parque. È uma senhora extremamente, simpática, agradecida, educada, atenciosa. Gosto dela!
Ela vai tirando os artigos do carrinho para o tapete, se tiver garrafões de água ou outros artigos pesados, ela sabe que vou lá eu, os tirar. Depois , para que seja mais rápido vou embalando as compras, porque a senhora não se consegue mexer muito.
Da última vez, que a estava a atender, e a fazer este procedimento, não o cliente seguinte, mas outro que estava na fila, diz em voz bem alta "É pah isso assim, tem de ser mais caro!" É inacreditável como as pessoas são, esta falta de empatia! Será que esta criatura, não entende, que se fosse a própria senhora a embalar as suas compras, ele ainda tinha de esperar mais tempo!? Coitada da senhora, que, se ouviu e percebeu a indireta, deve ter ficado triste!
Lá porque uns andam sempre atrasados, os outros não têm, que levar com as suas pressas!
Por vezes há situações em que notamos que as pessoas precisam de ajuda, e eu gosto de ajudar, acho que sou empática, solidária.
Uma senhora já com alguma idade, estava a fazer um esforço enorme a tirar os artigos do carrinho, porque estava, do lado do puxador, quando deveria estar do lado da ponta que é mais baixo. Quando expliquei , exemplificando, que havia uma forma mais simples, a senhora aceitou, e agradeceu!
Por vezes, ouvimos ao som, chamarem pelo proprietário do automóvel X ou Y, e ficamos a pensar na matricula, se será o nosso. Confesso que preferia que dissessem a marca ou a cor, porque não sei bem de cor a matricula.
Num destes dias, chamavam insistentemente, dizendo a matricula do veiculo. Ninguém se identificava. Parece que , alguém reconheceu os donos, uns velhotes que estavam na minha caixa. Via-se que eram pessoas instruídas, mas já muito debilitadas e de idade avançada. O senhor, tinha deixado o carro a trabalhar e com a porta aberta. Então, enquanto o senhor foi ao parque, a esposa ficou a tentar retirar as compras do carrinho, não estava a conseguir, então um amável senhor que estava na fila, ofereceu-se para ajudar. Eu também embalei as compras e coloquei as mesmas dentro do carrinho.
Percebi que este casal estava completamente baralhado. Certamente precisariam de ajuda, no sentido de alguém conduzir a viatura por eles, pois pareciam não estar com capacidade para isso, para além de ser perigoso não só para eles, como também para com quem eles se cruzam!
Há uns meses, uma cliente, sentiu-se mal à minha frente. Ela até se sentou na cadeira da operadora de caixa à minha frente que não estava ocupada.
Saí da minha caixa e fui lhe perguntar se ela sentia mal, vinham duas colegas a passar chame-ias aflita e preocupada. Ficaram logo com a senhora e pediram ajuda.
Conhecia a senhora dali, via-a muitas vezes com a filha, sempre simpática, educada e bem disposta.
Entretanto contactaram a família, chamaram o INEM, mas já não assisti ao resto porque a levaram para dentro.
Durante algum tempo não vi nem a senhora, nem a filha, as minhas colegas também não.
Mas não me esqueci da senhora e andava ansiosa por notícias.
Até que há dias a vi na minha fila, e logo me veio um sorriso por a ver bem, que ela retribuiu. Até lhe disse o quanto já me tinha lembrado dela. Lá me contou como foi, e nos agradeceu por termos sido atenciosas com ela. Da minha parte até nem fiz muito, porque estava a atender clientes, mas a senhora foi uma querida nas palavras que nos dedicou!
Confesso que foi uma grande satisfação a voltar a ver . Há tantos anos aqui, já há esta proximidade! É este lado humano da profissão que tanto gosto!
Por vezes há clientes que partilham comigo, situações pessoas, vivências, preocupações. Talvez me escolham, porque eu não sou dali, não tenho ali raízes, nem conheço o passado ou as histórias das pessoas e dos seus amigos e familiares. Andei durante anos a desejar ser professora primária, e deveria era ter desejado ser psicóloga ou socióloga, já que uma está relacionada com o meio onde vive e convive e a outra se refere a cada individuo na sua singularidade.
Histórias de maridos que controlam as contas das esposas, historias de separações conflituosas, de doenças, situações tristes, de solidão, de perdas dramáticas...
Um dia destes, estava pouco movimento e a cliente ficou lá um bom bocado a conversar, só pensei "esta vida dava um livro"!
Nós operadoras de caixa, acabamos por ser um pouco psicólogas, mas por vezes, perante a gravidade da situação que me contam, sinto que me falta aquela palavra certa para dar à pessoa, quem diz palavra diz conselho, mas pelo menos, julgo que sou boa ouvinte, e que consigo transmitir algum conforto.
Por vezes quem vê caras, não vê corações, é um cliché, mas adequa-se, porque só conhecendo a história de vida da pessoa conseguimos entender melhor as suas atitudes!
Daí que quando alguém tem uma atitude menos comum, já penso que alguma razão ela terá, para agir assim...