Certo dia, decidi ir comprar um iogurte para comer antes de começar o turno, porque o turno seria longo e sem pausas! Entrei no supermercado com um casaco meu que tapava a farda e levava a minha mala. Dava para ver perfeitamente que estava ali como cliente, mas mesmo assim, e porque os clientes já me conhecem, se me apanham aproveitam para fazer perguntas. Perguntas do que tipo em que corredor é que está isto ou aquilo, depois ainda me pedem para eu lá ir. Muitas vezes eu nem sei onde é que as coisas estão, porque passo todo o tempo na caixa. O que aconteceu foi que para não dizer, não às pessoas, acabei por perder o tempo que tinha para a minha compra e para comer. O tempo passou e tive de ir embora e deixar lá aquilo que ia comprar. Será que é pedir muito que respeitem o nosso direito a ser cliente.
Hoje atendi o cliente mais arrogante, pretensioso, emproado, mandão, mal agradecido, calão, estúpido, dos últimos anos! E sendo eu a pessoa calma que sou, quase que me saltava a tampa! E ao que parece este sujeito é dono de alguma coisa, não sei em que ramo, mas tenho pena dos seus empregados, porque clientes, com esta personalidade e/ou atitude, não deve de ter muitos!
Um dia desta semana, um cliente daqueles diários e bem dispostos, está à minha frente enquanto registos as suas compras e diz-me: " Você sabe o que aconteceu à minha mulher?" Quando ele me diz que ela morreu, e de uma morte tão estranha, pois não estava doente, eu fiquei sem reacção, sem palavras! Prosseguiu dizendo que era o aniversário dela, que tinha ido às urgências porque não se sentira bem e ficou a fazer aerossóis e que sem mais nem menos faleceu! O Sr. estava completamente perdido, triste e amargurado. Eu lembro-me bem da senhora pois há anos que os conheço ali do supermercado. Sempre tão amáveis. Ele concluiu dizendo : " já viu a prenda de aniversário que ela e eu recebemos? São mais de trinta anos de vida em comum...e agora isto?" Tive tanta pena do senhor, foi difícil conter-me, só me apetecia chorar...Foi mesmo a situação mais difícil que tive. Os clientes desabafam comigo algumas vezes, mas assim...Tanto desespero no rosto daquele homem! Espero que com o tempo, ele encontre novamente o equilíbrio...
Depois, uma pessoa que estava na fila que também ficou comovida, perguntou-me quem era o senhor, e eu disse-lhe que não sabia, pois só o conhecia dali. Deve ter estranhado por a conversa ser tão pessoal, entre pessoas que apenas se conhecem de cliente para operadora de caixa.
É nestas alturas, que eu penso em como gostaria de ter um curso de psicologia.
Caro cliente, quando você se esquecer de algum artigo, tente não pedir à operadora de caixa que o vá buscar, pois ela não pode sair dali para o fazer. Ela está ali cativa naquele lugar! E tente não reclamar se não estiver ninguém disponível para o fazer. A culpa não é do serviço, mas sua que não fez uma lista para se guiar por ela e assim não ter esquecimentos!
Não estou zangada, mas por vezes estas atitudes, deixam-me aborrecida. Parece que é a operadora de caixa que tem de ter a solução para tudo. Será que já se imaginou no nosso lugar!?
Nem há uma semana eu tinha dito a alguém, que estava mesmo a atrevessar uma boa fase. Pois o meu horário de trabalho permitia-me algo muito importante para mim , que se traduzia em poder ir levar e buscar sempre o meu filho à escola. Acho que falei cedo de mais, os horários vão ser alterados. Já começo a ficar desesperada, e não é só porque vou ter de mudar a rotina do meu filho...
Já aqui há uns tempos contei, que certa vez depois de eu já ter fechado a minha caixa e de ter indicado outra caixa aos clientes, atendi uma colega que me pediu. Ao fazer isto, um cliente apercebesse da situação e vai se queixar ao balcão de informação. Nessa altura tive de ouvir (uma repreensão), mas assumi o meu erro e decidi não voltar a errar.
Mas é uma situação complicada, porque de vez em quando, depois de eu já ter fechado a caixa, lá vem uma colega pedir... e eu tenho de dizer NÃO! Ainda hoje o facto se repetiu. E depois eu é que fico constrangida. Mas porque será que as pessoas não entendem!? Afinal estamos todos no mesmo barco!
Como sabem, estamos naquela época em que se vendo imenso camarão. O camarão vem congelado e dentro de um saco. Nós temos de pegar no saco para passar o autocolante com o código de barras no scanner. Eu já sei que tenho de fazer esta tarefa com muito cuidado, pois os camarões congelados picam. Hoje tive um pequeno descuido e levei logo uma picada. Além de doer bué, fez correr sangue. Tive de chamar alguém. Depois fui desinfectar. Já foi há umas horas e ainda incomoda.
Mas será que é assim em todo lado? Porque não arranjam um método que evite estas coisas, por exemplo, caixas de esferovite ou caixas de plástico. E depois falam de normas de higiene e segurança para isto e para aquilo. Parece uma coisa tão simples e ninguém faz nada!
Nesta época natalícia, costumam dar mais umas horitas a algumas operadoras de caixa em part-time. Aumenta a carga semanal para 25, 30 ou mesmo 40 horas. Dá imenso jeito para ajudar no orçamento. Não sei porque a distribuição dessa horas, não é igual para todos(as), nem sei qual é o critério usado para beneficiar mais uns que outros. Apenas sei, que a minha carga horária ficou nas 25 horas semanais. Eu ando sempre a pedir...e enfim! Percebi que há lá miúdas há bem menos tempo, que foram mais beneficiadas.
Qualquer dia peço para colocarem no meu posto de trabalho uma vitrina à minha volta , só com um buraco para ouvirem a minha voz e fazerem o pagamento. Como nos Centros de Saúde. É que os clientes não respeitam mesmo aquele pequeno espaço que é só da operadora:
Já aqui há uns tempos contei um tinham tentado ficar com a minha caneta;
Estão sempre a tirar-me os sacos da frente, mesmo quando há outros em cima do tapete:
E hoje até uma cábula que eu tinha à minha frente com uma explicação de uma promoção me mexeram, dizendo: " e isto, o que é?"
Ufa que é demais! Será que não têm a noção que estão a ser indelicados? Um bocadinho de respeito por nós e pelo nosso espaço!
( Sobre os cupões de desconto que vão pelo correio para a casa dos clientes)
Porque será que surgem sempre as mesmas perguntas, sempre feitas pelos mesmos clientes, sobre este mesmíssimo assunto? É o sistema que é difícil de entender? Somos nós que explicamos mal? Ou será simplesmente uma forma de demonstrar contrariedade?