Eu sei que sou muito má fisionomista. Por vezes, basta estar uns tempos sem ver uma pessoa e essa pessoa mudar de visual, ou encontrar uma pessoa num sítio a que ela não pertence que já fico sem a conhecer. Por vezes, as pessoas acham que não as cumprimento porque me estou a armar, mas não, eu sou mesmo assim, caras e caminhos não são o meu forte.
Por vezes as pessoas não percebam que estão a falar comigo e que eu não as estou a conhecer, mas estou a fingir que sei perfeitamente de quem se trata, faço isto, porque das vezes que eu disse que não as estava a conhecer, algumas ficavam ofendidas!
Um destes dias lá na minha caixa uma senhora perguntou-me pela minha mãe, e eu pensei logo que devia de ser engano, pois a minha mãe não é dali daquela terra.
Cliente: Então a sua mãe como tem passado!?
Eu. Está bem, mas a senhora conhece a minha mãe? Ela não é daqui!
Cliente: Pois não é da ...(uma terra qualquer ali perto)
Eu: Não, não!
Cliente: Pois está bem, veio para lá de muito nova!
Eu: Não, não
Cliente: Então a sua mãe não é a professora Y!?
Eu: Não...
Cliente: Mas não é, como?
Eu: Impossível a minha mãe ser professora, se ela nem aluna foi!
Olhou para mim com um ar desconfiado e responde:
Cliente: Pois se não é a sua mãe, você é muito parecida com a filha ela!
No final do registo das compras, chega a fase das perguntas e resposta entre operadora de caixa e clientes.
Operadora de caixa: Quer descontar o saldo do seu cartão?
Cliente: Quanto saldo é que tenho?
Operadora de caixa: O seu saldo é superior ao valor da compra, mas só quando sair o talão é que lhe posso dizer dizer de quanto é! Quer descontar?
Cliente: Assim, não! Fica para outro dia!
Não desconto o saldo, a cliente paga, entrego o talão e revelo-lhe o valor do saldo que é significativamente superior ao valor da compra.
Cliente: Afinal tinha lá dinheiro que dava para pagar a conta!
Operadora de caixa: Sim, foi como lhe tinha dito!
Cliente: Mas assim, podia ter descontado!
Operadora de caixa: Mas a senhora disse que ficava para outro dia!!??
Cliente: Pois, porque pensava que não chegava para a conta toda!
A dado momento, só me apetecia fugir dali (qualquer operadora pode ter esta vontade, mas lá está, nós somos pobres e precisamos deste trabalho)! Tive de deixar a cliente levar a razão e eu que a tinha, fiquei sem ela!
Quando os clientes se esquecem dos cupões em casa, o que acontece diversas vezes, há algumas formas de os recuperar, entre elas, pedir uma segunda via no balcão de informação (a máquina que existe em alguns continentes onde o próprio cliente vai lá tirar uma segunda via, ainda não existe no "meu" Continente). Se pelo menos os clientes dessem logo conta que não tinham o cupão e fossem logo á entrada ao balcão de informação, mas o habitual é darem conta da falta do cupão no momento do registo, o que atrapalha o andamento da fila, ir para o balcão pedir a dita segunda via. Por isso, há outra, mais prática e rápida, onde a operadora pode passar o cupão de outro cliente, não é lá muito correto e nem sempre funciona, mas é uma hipótese. Quando faço isto, aviso logo o cliente, que o cupão que tem em casa fica automaticamente inutilizado!
Mas houve alguém, uma cliente, que fez com que eu decidisse nunca mais o fazer. Esta cliente, depois de eu lhe ter passado um cupão de outro cliente numa compra, voltou lá com o seu próprio cupão, dizendo que nunca o tinha usado. Só que ela não devia de saber que através do cartão continente, dá saber, quando ela o usou, onde, e até qual a operadora que a tendeu! E dizia a senhora que era mentira, que nem tinha lá ido naquele dia... depois lá disse " ela (a operadora) não passou o meu, passou um qualquer que lá tinha!" ou seja, ainda me estava a culpar, pela gentileza que tive com ela. Mas, depois de confrontada, lá teve de aceitar...
E agora eu já não passo cupões de uns clientes em outros. Quanto muito, ligo para o balcão e peço o código, demora mais um bocadinho, mas assim, não há confusões!
Vamos lá então falar mais um bocadinho dos cupões de 50% desconto, daqueles que recebemos pelo correio. Acredito que estes últimos sejam os que mais confusões têm gerado nos clientes. A meu ver estes descontos são uma ajuda, mas muitos clientes não pensam da mesma forma. Acham que é uma forma de os obrigar a comprar aquilo que não precisam. Ninguém os está a obrigar a nada! Só usa quem quer, quem precisa. Se o desconto é de uma produto de marca que não usa tem duas hipóteses: não o usar ou então aproveita a oportunidade de estar mais barato para o experimentar!
O facto de os cupões não serem iguais para todos os clientes, faz com que as pessoas questionem o porquê. Ontem dois clientes que são vizinhos estavam um a seguir ao outro da fila com o desconto de 50% em bacalhau e ambos tinham bacalhau crescido da Noruega, só que um destes clientes o desconto dizia "bacalhau ultracongelado continente". Quando disse ao cliente que não era aquele bacalhau...o homem explodiu de raiva, e entre muitas coisas disse :" o que é que a minha vizinha é a mais que eu?", " uns são filhos outros são enteados". No fim deixou lá o bacalhau, rasgou o cupão ao meio e atirou-o para a minha frente. Fiquei muito sentida com a situação. Ainda por causa deste bacalhau um cliente que se esqueceu de trazer o cupão queria ter o desconto, dizendo que no dia seguinte ia lá levar o papel. Também este saiu de lá zangado (sem razão alguma) dizendo que eram-mos todos uns mentirosos e que não voltava lá mais!
O que às vezes custa, é que a operadora de caixa é segundo muitos clientes a culpada de tudo, e então é lá que aproveitam para descarregar. Acho que nós merecemos um pouco mais de respeito, pois nós estamos lá para fazer o nosso trabalho, tal como nos mandam.
O que eu acho é que por exemplo os artigos dos cupões poderiam estar menos específicos, ou seja, mais abrangentes ( e mais claros também). Por exemplo: 50% em azeite oliveira da serra (englobava: garrafão, garrafa, light, virgem, extra). Uma coisa que também me parecia bem, era os artigos dos cupões terem junto das prateleiras uma chamada de atenção. Outra coisa, seria de aquando destas promoções as chefias darem uma breve formação aos colaboradores, nem que fosse uma folha escrita com as instruções, para na altura que os clientes nos questionassem, haver uma resposta concreta e um melhor auxilio. Mais ainda, as pessoas mais velhas e com uma visão menos aberta a estas promoções: haver sempre alguém mais vocacionado para lhes dar as explicações mais adequadas e numa linguagem mais simples e comum, já que muitos destes estão sempre desconfiados.
Ficam então aqui estas constatações de uma simples operadora de caixa, na esperança de que alguém do departamento de marketing as leia e lhe possam ser úteis.