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A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

Quando um cliente habitual, morre

Estava tranquilamente a mexer no telemóvel, quando surge numa página de Facebook,  numa agência funerária da zona, o anuncio da morte, daquele cliente doentito,  sobre o qual, aqui tenho falado, algumas vezes!

Tinha esperança que  com tratamento recuperasse, mas pelos vistos, o dia da partida dele , chegou! Vi o sofrimento da esposa, cada vez que ela ia ás compras e perguntava por ele. Houve um dia, que ela disse que ele estava melhor, mas, logo a seguir, disse que afinal, não estava nada melhor!

Achava que seria possível, fui demasiado otimista.

Como é que é possível que uma pessoa que tanto fez rir e divertiu os outros, tenha de ir embora assim!?

E agora quem nos prega partidas!? Quem nos vai animar em dias cinzentos!? Quem me vai chamar de "a romancista" da mesma forma!?

Imagino, que no lugar onde ele está agora, não terá dor, nem sofrimento.  Irá continuar  bem disposto, e a animar os outros habitantes do seu novo universo!

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Situações difíceis de lidar

Ontem atendia uma cliente habitual, por quem já tenho alguma afinidade, pois já são alguns anos de convivência! Sei que tem três netinhos, que vivem longe, e uma filha que de momento estava cá na terra com ela.

A dada altura, a senhora dá-me um cartão continente e diz-me "pode ver se este cartão tem saldo, é que encontrei o lá em em casa, era da minha filha!" Eu passo o cartão, e vejo que está inativo. Digo à senhora o estado do cartão. Ela diz-me: "então pode por no lixo!" E eu respondo: "mas se é da sua filha , ela pode ativá-lo"!

Quando a senhora me diz que a filha tinha morrido no final de março, eu fiquei pasmada! Eu sabia que a filha da senhora estava a tratar-se de um cancro , mas costumava vê-la por lá com ela, julguei que estava a recuperar, parecia melhor.

Fiquei chocada, sem saber o que fazer. Disse-lhe que lamentava muito, e lá deu para ficar um pouco a falar com a senhora.

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Sem palavras

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Chega à minha caixa, aquele cliente, sobre o qual já aqui falei muitas vezes, principalmente da sua constante boa disposição. Cumprimenta-me com um aperto de mão,  noto logo que algo se passa, pois ele não vinha com piadas e brincadeiras como é hábito. Pergunto se está tudo bem, ao que ele responde. "não, está tudo mal!". Então eu pergunto se é a esposa que está novamente doente e ele responde: "não,  doente ela não está, já está, é enterrada!" Neste momento, eu fiquei bloqueada, surpreendida, sem saber o que dizer, pois ainda há tempos os tinha vistos lá aos dois.

 

Foi aquela doença maldita, houve uma altura que a senhora esteve internada, mas depois já lá ia de novo com o marido, é lamentável, eles chegavam a ir lá quase diariamente, sempre juntos.

 

Fiquei triste, nós vamos nos afeiçoando ás pessoas...claro que depois sentimos a sua falta

O caso mais dificíl que já tive

Um dia desta semana, um cliente daqueles diários e bem dispostos, está à minha frente enquanto registos as suas compras e diz-me: " Você sabe o que aconteceu à minha mulher?" Quando ele me diz que ela morreu, e de uma morte tão estranha, pois não estava doente, eu fiquei sem reacção, sem palavras! Prosseguiu dizendo que era o aniversário dela, que tinha ido às urgências porque não se sentira bem e ficou a fazer aerossóis e que sem mais nem menos faleceu! O Sr. estava completamente perdido, triste e amargurado. Eu lembro-me bem da senhora pois há anos que os conheço ali do supermercado. Sempre tão amáveis. Ele concluiu dizendo : " já viu a prenda de aniversário que ela e eu recebemos? São mais de trinta anos de vida em comum...e agora isto?" Tive tanta pena do senhor, foi difícil conter-me, só me apetecia chorar...Foi mesmo a situação mais difícil que tive. Os clientes desabafam comigo algumas vezes, mas assim...Tanto desespero no rosto daquele homem! Espero que com o tempo, ele encontre novamente o equilíbrio...

 

Depois, uma pessoa que estava na fila que também ficou comovida, perguntou-me quem era o senhor, e eu disse-lhe que não sabia, pois só o conhecia dali. Deve ter estranhado por a conversa ser tão pessoal, entre pessoas que apenas se conhecem de cliente para operadora de caixa.

 

É nestas alturas, que eu penso em como gostaria de ter um curso de psicologia.

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