Ainda não tinha entregue o talão à cliente que estava no tapete de saída, já o cliente seguinte estava à minha frente. Entrego o talão e despeço-me , e o senhor já parecia estar em pulgas.
Diz-me: "Tenho que me despachar, porque se não, chego atrasado ao trabalho, e o patrão despede-me!" Não gostei muito de ele estar a colocar essa responsabilidade em mim, logo eu, que sou bem organizada e chego sempre ao trabalho antes da hora! Então digo-lhe " mas isso não depende só de mim"! Ao que ele responde: "pois, mas você já está aí descansadinha no seu trabalho, e eu ainda tenho de chegar ao meu!"
É nesta altura que vou para dar uma resposta , mas ao ver a esposa e ao olhar de novo para ele, reparo num pormenor, que me faz recuar, e não responder!
Mas, de facto, é preciso ter mesmo paciência neste atendimento ao público. As pessoas é que andam sempre atrasadas, não se organizam, e depois colocam as culpas dos seus atrasos no pessoal que está a trabalhar e tem de os ouvir resmungar!
O dia do reformado receber a sua reforma é o dia 8, mas também se estende ali a 9 e 10. Aqui há uns tempos era a dia 10.
É um dia que gosto muito. Gosto dos velhotes castiços, a maioria são simpáticos, querem contar coisas, fazer desabafos, conversar até de trivialidades. É preciso alguma paciência é certo, porque há momentos em que temos de abrandar, dar espaço, dar tempo, mas acho que consigo dar conta do recado, com tranquilidade! É sempre bom rever, certas caras, que só vão nestes dias, porque é quando o "patrão" lhes paga!
Há vidas difíceis, reformas pequenas, mas eles acima de tudo, mostram carinho e afeição por nós!
Por vezes, ao vermos que as filas têm algumas pessoas em espera, queremos , nos despachar mais depressa, mas nem sempre é possível, porque há tempos que não podemos saltar. Há o tempo de saber se é com ou sem contribuinte, se há cupões, se o pagamento é em numerário ou em cartão, se querem descontar o saldo. Acredito que todos compreendem isso.
No entanto, há momentos em que estar a contar um monte de moedinhas pequeninas, é daquelas coisas, que só atrapalha. Então eu disse à cliente que já não era preciso mais moedas, que o valor já estava certo, mas ela queria substituir moedas de cinquenta cêntimos, por moedas pretas, então perante o facto de eu não estar a contar mais aquelas moedas, diz em voz bem alta "mas eu quero me livrar dos pretos!" Por mero acaso, no fim da fila estavam dois rapazes negros que ficaram a olhar. O cliente que estava entre eles riu-se e abanou a cabeça!
Felizmente a cliente lá foi feliz da vida porque conseguiu se livrar dos pretos dela!
Estou a atender um senhor, [ na casa dos 60 anos] que pretende descontar o saldo do cartão continente. Digo ao senhor : "para descontar o saldo tem que colocar um código, sabe qual é!?" Ao que o senhor responde: "sei, é o 19**!" Eu logo muito rapidamente digo: "não é para dizer, em voz alta, era para o senhor colocar aí ..."
A senhora, cliente seguinte, que estava a colocar as compras no tapete, riu-se. Também esboço um sorriso, mas digo-lhe "acho que a culpa é minha, fiz mal a pergunta!" É então que o senhor, diz :" não se preocupe, também não é uma fortuna que lá esta!" Mas eu reitero ao senhor que nunca se deve dizer códigos a ninguém, nem em voz alta!
Quando o senhor saiu, falamos sobre a ingenuidade das pessoas e sobre o facto de escolherem datas de nascimento para códigos, por ser logo o que quem tem má intenção , vai experimentar!
É para mim, um certo stresse, estar a chegar à caixa, ter o posto para organizar, as moedas por abrir, e precisar ter a certeza que está tudo nos conformes para chamar os clientes, e as pessoas começarem logo a perguntar: "vai abrir, vai abrir"!?
Imaginem que eu digo, "podem ir pondo os produtos" e depois haver uma avaria na impressora ou no sistema e as pessoas terem de retirar os produtos!? Além disso, as pessoas têm que vir por ordem de fila, não é haver pessoas já nas filas e alguém acabado de chegar, ser logo atendido, não pode ser, há regras!
Houve recentemente, um dia, que uma pessoa fez a pergunta e eu disse que ia atender por ordem de fila. Assim sendo, chamei e vieram clientes que estavam nas filas de outras caixas.
Essa pessoa voltou lá e confrontou-me com a situação dizendo "daquela vez, as pessoas estavam lá paro o fundo, podia me ter atendido, que nem davam conta!" Respondi: "Ah mas eu gosto de cumprir as regras." Ainda procurei a câmara, a ver se era para os apanhados!
Estou a atender um casal de carrinho cheio, com um filho. Uma criança muito educada, e, no meu ponto de vista, sobre dotada!
Educadamente, perguntam-me como faço para o tapete andar, chamo-o para vir ao pé mim, mostro-lhe o botão e explico-lhe que à medida que vou tirando os artigos o tapete vai andando automaticamente. "Muito obrigado por me teres explicado, pois sempre quis saber!" Os pais dizem-lhe para se calar, mas ele só queria conversa.
Começa a dizer como se calcula a raiz quadrada dos números, dizendo que está no terceiro ano, mas que já sabe coisas do 12ªano. Digo-lhe que matemática é o meu ponto fraco! Então ele prossegue, dizendo "então e capitais sabes?" Eu digo "algumas"! Logo a primeira que ele me pergunta, fico a patinar, então ele responde. Depois vai perguntando, e eu, como boa aluna, lá vou respondendo, e a cada resposta certa ele, faz-me um ok com o polegar. Os pais vão dizendo para ele se calar, mas ele estava tão entusiasmado e divertido, quanto eu!
Alegrou tanto o meu dia. Gostava tanto de o voltar a ver ! Já ele não estava lá e sempre que me lembrava dele, dava-me vontade de rir!
Que criança adorável, educada, inteligente, divertida, curiosa!
Foi uma lição que aprendi à minha custa, porque depois de ter fechado a caixa, atendi uma colega. E fi-lo justamente porque era uma superior hierarquia. No entanto, fui chamada à atenção, porque uma cliente foi se queixar à supervisora!
Disseram para nunca mais repetir a ação! E nunca mais repeti!