Há filas nas caixas com uma média de três clientes em espera. Estou a atender uma cliente habitual. Toca o telemóvel. Atende.
Era uma conversa não urgente, e até de cusquice. A sra deixa de arrumar as compras no carrinho, encosta-se ao fundo de braço encostado à barriga a falar. Ás tantas ouço-a dizer "Ai foi!? Então e mais!?" Ou seja ainda estava a puxar pela outra pessoa para a conversa continuar. Peço cartão continente, não responde, pergunto se quer contribuinte, também não responde!
Eu olho para a senhora e já em stresse começo a contar em voz alta, mas achando que estava em voz baixa "um, dois, três..."!
É quando ela diz à outra pessoa que já lhe liga. É aí que vê toda a gente a olhar para ela, e começa a apressar-se e a pedir desculpa!
Certo dia, na caixa de uma colega, um cliente teve de marca duas vezes o código do multibanco, porque houve qualquer erro da primeira vez. Quando o cliente marcou a segunda vez disse para a minha colega:
"Veja lá se depois me tiram o dinheiro duas vezes!"
Ao que a minha colega, calmamente respondeu:" Tiramos sim, uma vez é para mim e a outra é para o continente!"
O cliente, em resposta, sorriu.
Eu achei graça. Quando houve ocasião, devido a uma situação igual, resolvi, repetir a mesma frase que a minha colega. Só que o cliente não me sorriu, em vez disso, fez uma careta, e eu disse logo, "estava a brincar", antes que desse confusão!
Estamos na semana do cupão dos 15% em cartão em toda a loja. Nós perguntamos ao cliente se já usou o cupão ou se tem para usar.
Claro que acontece muitas vezes, ser nessa altura, que o cliente se lembra do dito cupão e quer ir imprimir no dispensador. Para evitar que se perca esse tempo, e se deixe clientes à espera, costumo ter um desses cupões de reserva e explico ao cliente que , se ele quiser, passo aquele, e assim ele escusa de ir imprimir. Sempre que é possível, faço isso. Se não der é porque o cliente já o tinha usado e este não dá para repetir!
Costuma resultar, e maioria dos clientes, até agradece.
No entanto, ontem estava a atender uma senhora relativamente jovem, no final da conta que passava dos cem euros e daria um bom desconto, faço a pergunta sobre o cupão. Ela diz que deixou em casa e que se esqueceu de imprimir. Sugiro usar o cupão que lá tinha e vai ela diz: " O quê!? Isso é que era bom! E depois o dinheiro vai para onde?!" Ao que respondo: "vai para o seu cartão! "Responde de volta: " Não, não, espere aí que eu vou lá imprimir um só meu!"
Lá foi a correr, uma fila de gente, demorou o tempo que precisou e veio com o seu cupão!
Despeço-me vai embora. A cliente seguinte diz-me "gabo-lhe a paciência, eu tinha a mandado a um certo sitio. Então você a querer facilitar!? Ai que nervos! "Esta cliente foi super amável e atenciosa, e no final, ainda me disse "obrigada pela paciência"!
Realmente, ao fim de tantos anos a lidar com o público, e com determinadas situações, até parece que já estamos vacinados, e já se leva na boa. Tipo é só mais uma!
Mas também sabe bem ouvir a compreensão e a valorização de outros clientes!
Um casal de clientes depois de colocar os seus artigos sobre o tapete, levava um casaco pendurado no carrinho e uma caixa, que na altura não percebi do que era, dentro do carrinho. Então debrucei-me para ver melhor o interior do carrinho e perguntei o que era aquela caixa.
O senhor pega na caixa e atira-me para cima, e diz "é isto que você quer"! Era uma caixa de pastilhas elásticas vazia. Fiquei a olhar para o senhor e disse-lhe que não precisava de me atirar assim a caixa e ele respondeu: "você faça mas é o seu trabalho e deixe de desconfiar dos clientes!" Respondi: " é justamente o que estou a fazer, o meu trabalho!"
A esposa estava só a dizer "deixa, não ligues", mas ele continuava a barafustar. Ainda o ouvi dizer "não limpam os carrinhos"!
Tinha duas pessoas na minha fila, e avisei que ia fechar a caixa, quando chegou um senhor.
Então o senhor pergunta: "mas vai fechar, porquê!?"
Ao que eu, que nem é habitual responder, respondi: "Olhe porque temos horários, temos necessidade de almoçar, de ir à casa de banho!"
Ele continuou a falar e a dizer que o cliente tinha sempre razão e que eu não tinha de lhe responder!
A colega de trás estava a apreciar a situação e até com ela o senhor se meteu!
O senhor já tinha idade e experiência de vida, para perceber, mas quanto mais velhos, mais implicam com o tempo que têm que esperar! Será que não gostava de sair a horas do seu trabalho, será que trabalhava o dia todo sem ir à casa de banho ou sem comer!?
Sinto que estou a assistir na primeira fila, à angustia das pessoas com estes aumentos dos preços dos artigos do supermercado, ou não fosse eu, uma operadora de caixa, atenta!
Já não são só os velhinhos que se queixam, é a população em geral! Não é fácil ver as pessoas atentas ao registo a olhar para o ecrã, onde a conta vai somando, e ver a sua desilusão. É triste quando nos pedem, para anular artigos, porque o dinheiro não vai chegar!
Ainda há dias um cliente, quando leu que tinha de mostrar os sacos vazios, disse que sabia que o motivo, era o de as pessoas roubarem, e, disse também, que não tinha pena nenhuma do patrão, porque "eles" não param de aumentar os preços. O senhor até podia ter a sua razão, mas eu respondi, que os funcionários tinham a responsabilidade de impedir que isso aconteça, porque se isso acontecer, nós seriamos prejudicados nos nossos postos de trabalho.
Já vi nas noticias que até as latas de atum tinham alarmes, isso ainda não chegou, que eu saiba, ao "meu" continente, mas pouco deve faltar.
Alguém tem de fazer alguma coisa, para que isto mude. A responsabilidade, não pode ser toda por causa da guerra. O custo de vida está muito alto, para os baixos ordenados.
Se as pessoas começarem a roubar, que capacidade teremos nós, funcionários de supermercados, para impedir!?
Estava a atender um cliente, já na fase do pagamento, onde é necessário fazer algumas perguntas, sobre o saldo do cartão, sobre a fatura e até divulgar alguma campanha.
No entanto, o cliente seguinte, já está a chamar, resolvi ignorar, porque naquela fase, não podia estar a responder. Mas como esta pessoa devia de "estar com o rabo a arder", começa aos murros no acrílico para me chamar atenção. Olhei para a pessoa com um olhar assustado, e fiz sinal com a mão para esperar. A pessoa só queria saber uma indicação que bastava ler o rótulo do artigo!
Uma senhora está a colocar as suas compras no tapete . Deixa um espacinho em cada grupo de artigos e diz-me que são três contas. Vai, um distinto senhor que está atrás diz: "isso assim não pode ser, não tenho tempo para estar à espera!" A senhora passa para o lado de saída sem responder ao senhor, mas diz-me que agora ainda vai fazer pior, e vai arrumar tudo nas calmas! Como a senhora estava no seu direito, porque não é proibido a mesma pessoa fazer várias contas, nem me pronunciei.
Assim fez, e o senhor esperou, e não disse mais nada!
Por vezes, há situações que são mesmo embaraçosas. Há quem se esqueça que existem câmaras de vigilância nos supermercados. Fui informada que determinada cliente foi vista a fazer batota com uns preços de um artigo da peixaria, digo assim, para não entrar em pormenores e não dar ideias a outros como ela. .
O que fiz foi descolar, retirar o artigo, e registar. A cliente em questão apenas queria pagar umas sardinhas e levar à borla uma posta de outro peixe, que era de um preço bem mais elevado!
Mas a cliente não teve qualquer tipo de incómodo, pois já lá voltou outras vezes e de vez em quando, tenta a sorte.
Será que ela imagina que já sabemos todos que tem esta atitude e que a vemos da forma que vemos!?
Perguntam imensas vezes. E nós respondemos, eu pelo menos faço-o diversas vezes, que os cupões não são iguais para todos os clientes. Porque é mesmo assim, há clientes que recebem cupões consoante os artigos, há clientes que recebem 10% no total, outros €5 em compras de €20 ou até outros. Não sei qual o critério de quem faz os cupões, apenas sei, e muitos clientes também sabem, que é assim que funciona. Já funciona assim, há anos!
Cada cliente, tem de tomar conta dos seus cupões, dos seus descontos, das suas contas. É tudo uma questão de se organizarem.
A operadora de caixa não tem como adivinhar os cupões que receberam pelo correio ou na aplicação.
Ou então ao entrarem vejam no dispensador se têm cupões, ou mesmo no telemóvel, para quem tem a app do continente!
Imaginem uma cliente dizer" ó menina os cupões que lá tenho em casa, dão para esta semana" Resposta: "Mas eu frequento a sua casa!? Como quer que eu saiba"!? Ou então: "Se a senhora não sabe o que tem em casa, como é que eu hei-de saber"!
Ou então a operadora de caixa pergunta se tem cupões e a resposta do cliente : "Ah, não sei, devia de ter?" Ora dá vontade de responder: "Eu sei lá, você é que tem de saber. Pode não ter, pode já ter usado!"
Ou então faço a pergunta e a cliente desata a correr direito ao dispensador, deixando a fila parada!
A intenção da pergunta, é lembrar ao cliente, que se tiver cupões, pode entregar!
É que o continente tem tudo tão bem programado, ou seja, envia cupões pelo correio, tem um dispensador para imprimirem uma segunda via, tem a aplicação, ainda envia SMS. Será que cada pessoazinha não pode só fazer a sua parte!?