Estou a atender uma simpática senhora, que trazia uns quantos packs de seis litros de leite, e ponho-me a fazer contas de cabeça em voz alta, mas a tabuada e a matemática nunca foram o meu forte, e não saiu bem à primeira.
Peço desculpa e a senhora riu-se . Conversa puxa conversa e ela conta-me que foi professora muitos anos. Confesso-lhe que esse foi o meu sonho durante anos. E ela diz-me "mas olhe que tem cara disso, seria certamente uma boa professora!" Foi algo que já não era a primeira vez que ouvia, e não pude deixar de ficar emocionada.
Como o movimento estava fraco, ainda ficamos ali mais um pouco na conversa. Contou-me que teve o privilégio de ficar muitos anos na mesma localidade e que, por isso, chegou a ser professora de pais e depois dos filhos.
Mesmo só com aquele bocadinho de conversa, fiquei a admirá-la e tenho a certeza que marcou pela positiva a vida dos seus alunos.
São também estes momentos que me fazem bem vivenciar!
Há um velhote dos castiços, que é sempre muito atencioso e simpático.
Um destes dias estávamos a falar de avarias em carros. Ele disse-me que quando há 35 anos comprou o seu carro, novo em folha, disse que seria o ultimo. O carro tem 35 anos, anda no campo e está bom. inclusive, disse ainda, que daqui a 6 anos teria oitenta e tal anos e ia deixar de conduzir, e, por isso, seria aquele carro, até ao fim da vida.
É um senhor do meio rural, mas muito elucidado e culto. Um analista nato. É sempre um gosto conversar com estas pessoas, assim, positivas, bem dispostas, educadas! Melhoram o meu dia!
Como já aqui disse, eu não sei os nomes dos clientes, quando os retrato, uso alguma caraterística que os identifique. No entanto, esta senhora, a dona Vicência tem um nome muito raro, mas que me diz muito. Tem o mesmo nome que a minha saudosa tia. A tia que foi a minha segunda mãe, a minha confidente, companheira, melhor amiga. Afeiçoei-me a esta senhora não só pelo nome, mas também porque percebi que tinha em comum com a minha tia, a doçura de pessoa!