Já aqui vos falei de uma janela de pagamento, uma abertura no acrílico, para as transações.
Passo o dia todo a pedir ao cliente para pagar por ali. Alguns aceitam e fazem, mas outros, ou gozam, ou dizem disparates.
Depois acontece que peço ao cliente o cartão continente por ali, ele da-me o cartão e vai para o topo, para me dar o dinheiro. Digo que o dinheiro também é por ali. Ele volta lá e dá-me o dinheiro. Quando dou conta já fugiu outra vez, lá o chamo de novo para entregar os talões.
É o dia todo nisto! Cansa, satura. Como é que não percebe que tem de ser toda a transação por ali. Sim o "buraco" é pequeno, apertado, pode não concordar, mas pelo menos podia aceitar e cumprir!
Era mais um dia normal, ou melhor, no que agora se diz normal.
Lá estava eu de máscara, de luvas, e atrás de uma "cabine".
A dada altura do turno, começo a sentir-me a sufocar, mas vou tentado respirar e aguentar. Sempre que possível desinfectava as mãos e puxava um pouco a máscara para respirar. A cada cinco minutos vou olhando para o relógio, desejando que chegasse a minha hora, para tirar aquilo tudo.
Não estava fácil. Até comecei a sentir sede, secura, coisa que nunca sinto. Eu nem costumo levar água porque não sou de beber muita água. Chegada a minha hora pergunto se posso fechar, mas, era preciso esperar um pouco. Cheguei a pensar que ia cair pro lado.
Não sei porque não arranquei aquilo da cara e pus no lixo.
Lá consegui finalmente, sair da caixa, ir para a zona reservada a colaboradores e tirar a máscara.
Certamente ficou mal colocada, na zona do nariz, deve ter ficado muito para cima. Nunca foi fácil usar, mas naquele dia, foi mesmo complicado.
No dia a seguir a isto, não usei, e, por azar, atendi um cliente que estava no topo, tossiu e nem se virou para o lado, nem pôs o braço à frente, nada!
Já voltei a usar e foi mais tranquilo. Até porque é o que tenho de fazer, por mim, pelos outros. Há profissionais que além de máscara, usam viseira, fato, e por mais horas, até ficarem com marcas. Se eles conseguem, também hei-de conseguir!
Já um ou outro cliente me questionou sobre o facto de não usarmos máscara. Por vezes, parece que estão a fazer um inquérito, outras vezes é só para fazer conversa de circunstância. Justifiquei dizendo que as barreiras acrílicas nos davam proteção, alguns ficavam convencidos, outros nem tanto!
Um dia destes resolvi, não usar as luvas, como tenho o álcool em spray e ia desinfetando a cada cliente. Fi-lo porque não me ajeito nada com as luvas, mas consciente do que estava a fazer. No entanto, houve vários clientes perguntarem-me o porquê de não ter luvas. Voltei a usá-las, principalmente para não ter de dar explicações!
Já me começo mais a habituar ás luvas, e caso fosse preciso, ou me dissessem na empresa, para usar máscara, também me habituaria!
Claro que quanto mais protegidos estivermos melhor, tanto para nós como para os outros!
O tema do coronavírus fala-se por todo o lado. Trabalhando num supermercado, de vez em quando, lá surge o assunto.
Há pessoas muito assustadas, há pessoas que desvalorizam o assunto, há ainda quem brinque com a situação.
Confesso que estou naquela de tentar não entrar em pânico, mas estar alerta, ser cuidadosa. Ontem tossi uma vez, coloquei o cotovelo como sempre e a cliente disse logo "olhe o vírus"!
Nas notícias ouvi que o dinheiro por andar de mão em mão pode trazer todo o tipo de vírus e baterias. Diziam para lavarmos as mãos depois de mexer no dinheiro, ou para evitar manusear dinheiro vivo e usarem mais cartão multibanco. Ora o meu trabalho, é muito mexer em dinheiro, não posso andar a lavar as mãos assim tantas vezes! E uma pessoa leva as mãos ao rosto mesmo sem querer, é inevitável, nem damos conta!
Sinceramente só quero que isto se resolva, que isto acabe. Jamais imaginei que em pleno séc. XXI pudesse acontecer algo assim, tão trágico. É tão injusto!
Nos dias que antecederam o natal, o supermercado estava como era de esperar, cheio. ainda assim dava sempre para ter "um dedo de conversa" com quem também se propunha a isso.
Gostaria de salientar neste âmbito, duas situações:
a primeira, uma cliente habitual, acompanhada pelo marido, diz no seu discurso que se aborrece com esta quadra, que o natal não lhe diz nada, e mais coisas do género. Ao concluir o atendimento, e depois de ouvir a sua palestra, pensei para mim " bem, é melhor não me despedir com celebre frase de boas festas e só dizer bom dia e obrigada. Vai ela retribui com um efusivo "Bom Natal"! Vá se lá entender esta gente...
o segundo foi um senhor que no dia 24 me perguntou, primeiro a que horas fechávamos naquele dia, respondi. Depois diz "mas amanhã está fechado"! Ao que eu respondi "sim, é dia de natal"! E responde ele "para mim é um dia igual aos outros"! Fiquei sem saber se devia de dizer que lamentava ou o que responder, e apenas disse "pois"!
Há sempre alguém a se fazer notar pelas suas teorias, portanto histórias para este novo ano, não vão faltar!
Um dia destes, um cliente com um carrinho cheio, ao chegar minha caixa, queixou-se da minha colega não o ter deixado ir para as caixas self-service. Respondi que aquelas caixas não eram para carrinhos e que estava lá uma placa com essa informação. Ao que ele respondeu "pois, mas bem que ela podia facilitar"! Respondo que são regras da empresa, e o cliente, continua a não aceitar a regra e a dar os seus argumentos parvos!
Desisti, de argumentar. É por causa destas pessoas com esta dificuldade em aceitar normas, que a caixa de 10 unidades deixou de existir, porque as pessoas também queriam ir para lá com um carrinho cheio, alegando que não estava lá ninguém com dez unidades, e que as podia atender...
Fico passada com gente que não aceita regras, imagino que estas pessoas, também não devem respeitar outro tipo de regras, tipo as de transito, argumentando "o sinal está vermelho, mas não está aqui ninguém, vou passar e pronto!"
Não têm conta as vezes que esta situação acontece por dia. Umas vezes a coisa resolve-se bem, mas por outras dá confusão! Refiro-me ao facto de na fila as pessoas não deixarem o cliente que está ser atendido ter a sua privacidade, quer para arrumar as compras, quer para fazer o pagamento ou mais alguma coisa. O cliente seguinte fica em cima deste!
Recentemente estava a atender um jovem, a seguir estava uma senhora, parecia apressada ou impaciente, andava de um lado para o outro, até que se instalou no local de frente para o sítio onde o cliente que estava a ser atendido tinha de estar.
Quando digo o total, o jovem aponta para senhora e diz que é ela que paga! Ao que ela rege um pouco agressivamente, vai o jovem diz que ela lhe tirou a privacidade, que se roçou nele, e que agora ela tem de pagar, já que está ali.
Por pouco que esta situação não acabava mal!
Sugiro para que se evite essas situações que se coloque uma sinalética no chão e que quando o cliente que está a seguir a pisar, se emita um sinal sonoro, a ver se assim ele se dá conta, e recue!
Um dia de muito movimento e clientes no supermercado, não me incomoda, até dá a sensação que o dia passa mais depressa.
No entanto, chegar ao ponto de não conseguir limpar o tapete, ( o mesmo estar molhado de peixe ou sujo de farinha, por exemplo) e o cliente dizer: "não tem um paninho?" Confesso que fico stressada, pois é como se me dissesse, "sua desleixada e badalhoca, não limpa isto?!"
Não é desleixo é falta de tempo, o tapete tem sempre artigos em cima, não o consigo limpar. Se ao menos ele se limpasse sozinho enquanto rola!
Eu não tenho grande pontaria, para verificar se uma pessoa está grávida ou não, se não for mesmo saliente. Na caixa de prioridade antiga, nós tínhamos de chamar as pessoas, e por vezes eu errava. Então eu deixei de chamar, só chamava mesmo quando se notava bem, e não tinha dúvidas.
Acho que já aqui relatei que uma vez chamei uma senhora que estava com a barriga empinada e as mãos à cintura, mas, errei. A senhora ficou ofendida e eu envergonhada. Pedi desculpa, mas fiquei a sentir-me tão mal.
Recentemente , vi uma outra senhora, e fiquei na dúvida se era gravidez. Olhei pelo canto do olho, disfarcei. Pensei "será que é!?" Depois vi-a de frente, e pensei que afinal não era. Quando alguém disse que a pessoa estava grávida, para me desculpar disse que não tinha percebido, e a grávida responde: "então pensava que isto era tudo gordura?"
Ora mais valia eu não ter dito nada!
Às vezes mais vale, esperar que seja o cliente prioritário a pedir/manifestar a prioridade, aliás, é o que está estipulado na lei!
Até porque, mesmo tendo o direito à prioridade, o cliente prioritário, pode não querer usufruir dela, por se sentir bem naquele momento. Por exemplo, uma cliente pode estar com um bebé, mas o bebé estar tranquilo a dormir no carrinho, e a cliente não ver necessidade de estar a "roubar" o lugar a quem já lá está à mais tempo, e merece consideração/respeito!
Esta semana houve um dia, que entrei às 10h, estavam outras caixas abertas, as colegas que tinham entrado ás 9h. No entanto, já estavam algumas pessoas em fila.
Peço ás pessoas para se dirigirem à minha caixa, por ordem de fila. Atendo uma senhora, e a seguir é a vez de um velhote, e a conversa que tivemos, foi a seguinte:
Eu: Bom dia!
Senhor: Bom dia, então atrasou-se!?
Eu: Desculpe?
Senhor: Hoje acordou tarde?
Eu: Por acaso acordei ás 7h!
Senhor: Então alguma coisa está mal, se acordou ás 7h, como é que só cá chegou ás 10h!?
Eu: Estou dentro do meu horário!
Senhor: Pois, mas a gente é que não tem de ficar aqui à espera!
Ainda pensei em responder, mas achei que não valia a pena. Terminei o atendimento e despedi-me com cortesia, e o senhor já não disse mais nada.
As pessoas cada vez têm menos paciência para esperar, principalmente as pessoas mais velhas, aquelas que já não têm horários de trabalho a cumprir, isso podia deixá-los mais tolerantes, mas não, parece ser precisamente, o contrário!
Raramente as pessoas vão ao supermercado com tempo, a maioria das pessoas vai com pressa, muita pressa!