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A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

Mulher a passear pelo corredor e a dizer que estava a fazer distanciamento

O  dia estava com alguns picos de clientela, e eu ainda não tinha feito a pausa que tinha direito. Entretanto, surgiu um momento, em que, estando a acabar uma cliente e não tendo outra, tive autorização para fechar a caixa e ir.

No entanto, surge uma senhora, vinda do corredor que tinha o carrinho lá encostado, e diz-me: "Então!? Não feche, eu estou aqui, tem de me atender! "

A outra senhora que estava a terminar diz-me : "Olha que lata, andava a ver as coisas nos corredores e agora diz que estava na fila"!Ao que esta responde: "Eu não estava no corredor, estava a fazer distanciamento!"  Ela percebeu o que eu ia fazer, mas esteve-se nas tintas para mim. Porque nós somos máquinas, não temos fome nem podemos ir à casa de banho!

E pronto, lá adiei a minha pausa para atender a doutora, que bem podia ter ido a a outra caixa!

Haja paciência!

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Vira o disco e toca o mesmo

Mais uma vez, a questão de pedir aos clientes para mostrarem os sacos vazios que trazem de casa e levam no fundo do carrinho ou até pendurados no mesmo.

Um casal, já tinha colocado todos os artigos sobre o tapete, eu já tinha passado mais de metade, quando o carrinho passa para o outro lado. Pedi para ver os sacos. Não perceberam a pergunta. Repito e aponto para o pedido por escrito onde menciona que os sacos têm de passar pelo tapete (claro que se as pessoas os mostrarem de livre vontade, nós não pedimos, tem é de dar para perceber se estão vazios). Olharam um para o outro e deram-me os sacos incluindo o térmico que estava com o peixe dentro. E disseram que com a pressa até se tinham esquecido.

Vi pela conta que levavam cerca de €60 em peixe, que certamente não pretendiam pagar! Eu é que ainda fiquei nervosa. E pedi porque peço sempre, e não por desconfiar! Não estava à espera! E podiam me ter enganado!

Quando saíram da caixa, o cliente que estava a seguir, tinha, sem eu dar conta, observado tudo e disse-me: "que espertos "! Pareceu-me bastante surpreendido e indignado com a situação.

Uns 10 minutos depois, chega uma senhora que fica toda ofendida porque lhe peço para ver o saco! Diz-me "estão com medo que as pessoas levem coisas sem pagar dentro dos sacos!" Então eu digo-lhe que ainda há minutos levavam €60 de peixe sem pagar. Explico-lhe a situação e a mulher responde: " Pois a miséria é tanta, e as coisas estão tão caras...", nem a deixei acabar disse-lhe logo que isso não era desculpa para roubar!

Isto não está fácil! Quase todos os dias há uma situação destas, de "brindes" dentro dos sacos!

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Um quase roubo

Estou a atender um cliente que estava numa de conversar, conversar. Eu estava a tentar despachar, mas o senhor queria mais conversa.

A dada altura ouço um alarme, que me parecia não ser da minha caixa, parecia vir de longe, e então olhei para trás. É aí que esse senhor que trazia uma mala preta ao ombro, retira da mesma umas laminas dentro de uma caixa com alarme e diz, na maior das descontrações : "Fui eu,  fui eu ! Meti isto aqui para não misturar com a comida e quase que me esquecia de as pagar! Ainda ia o segurança atrás de mim e passava vergonha!" Era um produto caro.

Fiquei ali uns segundos  a processar a situação, e pedi ao senhor para não voltar a fazer isso. Ele diz: "pois, já viu a minha situação, que vergonha!!

Eu nem sabia o que pensar. Ou o senhor é bom actor ou estava mesmo a ver se levava o artigo sem pagar!

E depois quem se sente mal sou eu. Mas alguém guarda um artigo dentro da mala com intenção de o pagar!?

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Tomar partido

Mais uma vez, uma cliente deixa o carrinho a marcar vez, e vai buscar qualquer coisa. Chega uma outra cliente com alguns artigos, e digo-lhe para avançar.

Chega a outra cliente, e diz a esta que ela lhe roubou a vez. A outra senhora responde que não estava ali ninguém. Ao que esta responde:" não estava cá ninguém, mas estava cá o carrinho, não viu!?" A cliente que já tinha os artigos em cima do tapete diz "tanta confusão, por tão pouco, é por isso que cá venho poucas vezes!"

Resolvi intervir e dizer aquela minha máxima: " Mas, carrinho sem freguês, não guarda vez!"

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Foi neste momento que a cliente do carrinho abandonado disse: " Pois, mas você não tem nada que estar a tomar o partido da outra, porque ela vem cá poucas vezes, e eu venho cá muitas e gasto cá mais dinheiro que ela!" A outra senhora ainda ripostou:" não venho cá eu, porque é a minha filha que cá vem!"

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Por pouco não se pegaram ali. Mania que as pessoas têm de achar que os carrinhos marcam vez, e que a operadora de caixa pode ficar parada à espera do dono do carrinho!

Quando os clientes acham que nós estamos a embirrar

Não sei o  porquê, mas, por vezes, quando pedimos ou dizemos alguma coisa aos clientes, eles acham que estamos a embirrar. Logo eu que tento sempre fazer tudo o que a empresa delega, porque além de ser a minha obrigação, estou de acordo com a maioria das normas, mesmo que haja alguma coisa que não esteja, cumpro!

Um  senhor levava 6 garrafões de água do Luso de 7 litro,  peço para colocar um em cima do tapete, fica zangado e diz ou não mete nenhum ou põe os 6. Ainda lhe digo que basta um e que multiplico, mas ele diz "umas vezes não é preciso, outras é..."  Respondo : "ponha então os 6, é preferível, obrigada!"

Estando em cima do tapete, nem é preciso grande esforço, confirmo melhor o fundo do carrinho, porque está completamente vazio, por isso não me importo e assim a birra do cliente, não me afeta!

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De outra vez, outro cliente deixou no carrinho para eu contabilizar uns quantos patés para gato, que apesar de alguns serem o mesmo preço, por serem de sabores diferentes, faz com que o código seja diferente, e, nesse caso é necessário registar consoante o sabor. Pedi para os colocar todos sobre o tapete, e disso que além de ser um artigo leve, tinham códigos diferentes. Deve ter ficado zangado e atirou com os patés para cima do tapete. 

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Quando os registei, além dos sabores diferentes, havia até um com o preço diferente. disse-lhe, mas a pessoa nem quis saber, ficou convicto que eu é que estava mal!

Só quem está no atendimento ao público é que sabe

Um cliente queria utilizar um cupão de €5 em €20 de compras. Mas não trouxe o cupão de casa, nem   tinha imprimido uma segunda via no dispensador de cupões.

Digo-lhe que pode imprimir depois, e no balcão recuperar com a colega que lá estava, para não interromper a fila e fazer as outras pessoas esperar.

Então ele começa a ser parvo e a dizer que lhe estou a dar baile, porque se fosse lá depois de pagar como é que ia ter o desconto!? Respondo que os €5 euros ficavam no cartão e não era descontado já na conta. Ele insiste que o estou a enganar.

Uma senhora que estava na fila, pede licença para intervir e mostra ao senhor um cupão de €5 onde se lê que o desconto ficava no cartão! O senhor, mesmo torcendo o nariz, lá aceita!

Quando ele sai, a senhora pede desculpa, porque também trabalha no atendimento ao público e a situação estava a incomodá-la. Digo-lhe que só tenho a agradecer, porque só me ajudou!

E é isto, só quem atende ao público consegue se por em nosso lugar em determinadas situações! Fiquei  muita grata a esta cliente!

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No dia seguinte, já estou pronta para outra!

Preciso de clarificar aqui uma situação, devido a um comentário que recebi.

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Mesmo que por vezes aparente  que são tantas as situações negativas que acontecem que parece que  a qualquer altura vou cair, não é bem assim! Ao fim de tantos anos nisto, já estou vacinada . Apenas fico sentida no momento, mas depois venho para casa, se tiver, tempo e vontade ainda partilho as ocorrências.  Contudo,  no dia seguinte já estou fresca e  pronta para outra!  É tipo uma fénix, que renasce das cinzas.

Se partilho as situações não é só para meu desabafo, mas também para que sirva de lição e exemplo a que me lê, ou para quem passa pelo mesmo! Isto porque agora tenho umas quantas colegas que me lêem na página do Facebook, e é tão bom!

Por isso eu não preciso de ficar na retaguarda, porque,  como disse alguém, aquilo que não nos mata, fortalece-nos!

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Nem sempre interpretamos bem os sinais

No supermercado onde trabalho, houve uma grande preocupação com a nossa segurança, daí  estarmos tão acrilicados. O problema principal é fazer os clientes respeitar o acrílico e o distanciamento, mas sobre esse  tema já escrevi tanto, ainda assim, voltarei a escrever outro dia. Hoje o tema é a audição! O acrílico dificulta a nossa comunicação com os clientes. Por vezes os clientes estão a falar, mas eu não estou a perceber o que estão a dizer, faço sinal, peço para falarem do topo. Enfim lá nos vamos mais-ou-menos, entendendo.

Perguntei a uma cliente se queria descontar o saldo do cartão continente, ela abana a cabeça a dizer que sim. Pelo menos foi o que entendi. Então descontei o saldo e a senhora pagou o restante, sem protestar. Saiu, olhou para o talão e foi lá ter comigo de novo, dizer porque é que lhe tinha descontado o saldo. Quando eu lhe disse "então a senhora abanou a cabeça", ao que ela respondeu "mais eu disse: fica, fica!" Ou seja o "fica, fica", tem o mesmo sinal que o  "sim, sim", mas afinal significava, daquele modo, um  não!

Lá pedi imensa desculpa à senhora, e o caso ficou resolvido, mas não deixa de ser caricato!

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