Não foi fácil rever a esposa do senhor, que faleceu recentemente e era "nosso" cliente. Era hábito os ver sempre juntos e divertidos. Parece estranho ver um sem o outro!
A senhora está tão abatida, tenho tanta pena. Ela mal consegue falar! Até me disse que nem vontade tinha de sair de casa, mas eu disse-lhe que viesse, porque sempre espairecia, falava com as pessoas.
Gostava de poder ter dado mais atenção, mas é um supermercado e tem horas que o movimento não nos deixa parar!
Quando um cliente pede sacos de plástico, normalmente, eu registo-os, abro-os e coloco-os no tapete de saída.
Assim aconteceu desta vez, mas o cliente, não reparou que o saco estava aberto, então molhou o dedo na boca, esfregou no saco já aberto, e como obviamente não resultou , ainda chegou o saco à boca e começou a soprar a ver se encontrava, se calhar, uma abertura paralela no saco já aberto.
Lá viu que o saco estava aberto, mas certamente ficou a achar que foi ele que o abriu!
Um senhor muito debilitado, que quando tem o carrinho ampara-se nele e leva a canadiana lá dentro.
Abriu uma nova caixa, mas ele disse que ficava naquela fila (a minha) para falar um bocadinho com "aquela menina" , ou seja , eu!
Foi sempre assim. Um senhor muito querido, que apenas conheço dali e que de alguma forma, tive o privilégio de merecer a sua atenção e o seu apreço, que muito me emociona!
Perguntei como é ele estava e ele disse que estava "na mesma"! Depois, vi-o a procurar as chave do carro, e admirada perguntei se era ele que conduzia, ao que ele respondeu, "uma maravilha, sentado, funciono muito bem, andar é que é pior"!
Despediu-se amavelmente e lá foi caminhando encostado no carrinho!
Hoje esteve um dia com algum movimento, e, quando assim acontece, é difícil, conseguir ter o tapete rolante e o tapete de saída, sempre limpos.
Uma senhora, não coloca as compras sobre o tapete, e, educadamente pergunta-me se o posso limpar porque tinha vestígios de farinha e o filho é celíaco.
"Claro que sim , até agradeço, isto foi um saco de mandioca em pó que rebentou e saltou poeira por todo o lado e ainda não tinha conseguido o limpar bem!"
A senhora pede desculpa e volta a falar me que pó de qualquer farinha é como veneno para o seu filho e tem de ter muito cuidado. Eu disse-lhe que entendia bem, porque a filha de uma pessoa amiga, também tinha esse problema e já conhecia, ainda que de longe, o problema!
É sempre bom podermos ter conhecimentos e estar disponíveis para melhor poder entender e atender os clientes!
Sou daquelas pessoas que precisam de comer, nem que seja, só um quadradinho de chocolate por dia, por isso estou a par dos preços, principalmente daqueles, que compro habitualmente.
Certo dia uma cliente, pergunta-me se eu sei o porquê da subida do preço dos chocolates, principalmente os de marca branca não só do continente, como também de outro supermercado concorrente. Disse à senhora que ainda não tinha dado conta, porque ainda tinha em casa e não tinha ido comprar. A cliente disse-me que foi falar com alguém noutro supermercado e lhe tinham dito que era devido à subida do preço do cacau, matéria prima do chocolate.
A cliente até disse que habitualmente levava uns quantos chocolates, mas que por aquele preço, nem um levava! Fiquei realmente atenta, e quando saí do trabalho, fui à prateleira verificar, e realmente, fiquei surpreendida com a subida do preço. Também não comprei. Por estes preços, tenho que moderar o consumo, já que não é um bem essencial. Mas vou sentir a falta!
Fui pesquisar e encontrei esta explicação:
" Por que o chocolate está mais caro? O motivo para um aumento de preço do chocolate é o mesmo para o aumento de preço do azeite: aquecimento global. A produção do cacau, matéria-prima do chocolate, tem sido afetada diretamente por conta das mudanças climáticas resultantes do fenómeno El Niño.
O El Niño ocorre devido ao enfraquecimento dos ventos alísios na direção leste-oeste, aumentando as temperaturas na superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical."
Estou a atender uma família já habitual. Uma mãe, uma avó e um menino, o netinho. É o menino da família!
Das últimas vezes, que os atendi , o menino não estava. Por isso quando o vi disse-lhe "olá , já algum tempo que não te via por cá!" Ao que ele me contou que esteve doente, tinha sido operado a um apêndice.
E ali fui conversando com o menino, enquanto atendia as senhoras. O menino estava a olhar fixo para o ecrã, e diz-me "estou a ver quantos selos a mãe vai ganhar", digo o total, que por acaso era 190€, ele olha para mim, e pergunta-me quantos selos dá, eu que sou zero a matemática, fico em silêncio por uns segundos e ele responde: "9 selos"! Impressionante porque é um menino bastante novo. "És bom a matemática", digo-lhe. Pergunto se vai para o quarto ano, ao que ele responde: "vou para o segundo, só tenho 7 anos!" Respondo admirada: "só tens 7 anos?" E ele diz "então que idade pensavas que eu tinha!? " Respondo: "Pensei que tinhas mais, tens uma maturidade tão grande, és tão inteligente, pensei que tinhas mais!" E a mãe confirmou a idade!
A nossa conversa continua. Ele conta-me que já tem uns quantos pratos, uns quantos copos. Então digo-lhe: "Ena já tens enxoval, já podes casar, tens namorada"! Responde de imediato: "Tenho sim, dança comigo no racho! " E depois ainda conta mais alguma coisa, sobre a namorada.
Diz a mãe a sorrir : "conta a vida conta"! E continuou a falar, a falar. Foi uma lufada de ar fresco que eu tive naquele dia, naquele momento. Há crianças mesmo especiais, e tenho tido a sorte, e o privilegio de poder de socializar com elas!
Estou a atender um senhor, [ na casa dos 60 anos] que pretende descontar o saldo do cartão continente. Digo ao senhor : "para descontar o saldo tem que colocar um código, sabe qual é!?" Ao que o senhor responde: "sei, é o 19**!" Eu logo muito rapidamente digo: "não é para dizer, em voz alta, era para o senhor colocar aí ..."
A senhora, cliente seguinte, que estava a colocar as compras no tapete, riu-se. Também esboço um sorriso, mas digo-lhe "acho que a culpa é minha, fiz mal a pergunta!" É então que o senhor, diz :" não se preocupe, também não é uma fortuna que lá esta!" Mas eu reitero ao senhor que nunca se deve dizer códigos a ninguém, nem em voz alta!
Quando o senhor saiu, falamos sobre a ingenuidade das pessoas e sobre o facto de escolherem datas de nascimento para códigos, por ser logo o que quem tem má intenção , vai experimentar!
Um cliente, em vez de colocar uma caixa de cervejas sobre o tapete, ou até de a levar no carrinho ao alto com o código de barras no ponto de conseguir digitar o código, pega nela para me entregar pela frente, deixando-a por momentos sobre o acrílico. Com receio de o peso partir o acrílico, pego nela com algum esforço, pois aquela operação faz muito mal a coluna. Digo: "não faça isso, podia ter partido o acrílico!" Ao que o senhor responde: "e era você que ia pagar !?" Ao que eu respondi:" tenho que zelar pelo equipamento e principalmente pela minha coluna!"
Existe até, pelo menos uma marca, que tem um código de barras picotado que dá para o cliente retirar e entregar à operadora de caixa!
Quando este cliente se despediu disse em tom irónico: "e não se esqueça de ir ao cemitério por umas florzinhas na campa do Belmiro, que ele agradece!"