Felizmente são casos raros, mas existe uma senhora, uma família porque costumam ir em grupo, mas é mais essa senhora, que tende sempre a empatar a fila.
Há sempre um motivo, quando não há, ela inventa. É uma confusão, porque não organiza, cada cupão com o seu cartão, depois a conta era para dividir, mas não avisou e tenho de anular artigos. Também costuma estar a falar ao telemóvel. Isto quando não desaparece e é preciso esperar por ela, porque é ela, quem paga!
Da última vez deixou dois elementos da família na caixa e foi para o balcão resolver qualquer coisa. Na hora de pagar, como ela é que tinha o dinheiro, e não estava, meti a conta em espera e atendi outro cliente. Ficou ofendida e disse que eu tinha de esperar porque estava a resolver uma questão.
O problema, não é eu esperar, é a falta de respeito por quem está na fila.
Quando a vejo no supermercado, já sei que vai haver demora. Chego a desejar que não me calhe na rifa, e eu até sou uma pessoa paciente, e que gosta de dar atenção, e fazer um bom atendimento aos clientes.
É preciso paciência, paciência infinita! E também se arranja para estas pessoas!
Estou a atender uma casal, ambos simpáticos e alegres.
A dado momento dizem-me ser pais de um colega. Quando me dizem o nome, olho para a senhora e vejo logo traços desse colega, então digo "ah e ele parecido consigo!" O senhor olha para mim e responde: "então e não é também parecido comigo?" Ups, fico ali por breves momentos em silencio, até que a senhora me diz, que ele também gosta de ouvir, que o filho é parecido com ele!
E foi mais um momento de boa disposição, com clientes divertidos!
É comum pela manhã, as filas do supermercado terem na sua maioria, pessoas com mais idade.
Algumas pessoas, mais idade, não significa mais paciência, muito pelo contrário.
Um velhote que só tinha três a quatro artigos, está a reclamar porque está na fila. Ouço alguém dizer "mas fulano X, também está e não está a reclamar" - ao que o velhote responde: "mas eu não tenho a vida dele"! Vai um senhor diz para ele passar à frente, anda um lugar , mas ainda estão dois á frente. Pede a um se pode passar, recebe resposta afirmativa, e passa.
Sai da caixa, encontra alguém conhecido e fica ali a cumprimentar, ainda perguntar por A e B, descansadinho da vida. Eu penso assim " isto não vai acabar bem". É quando o cliente que lhe tinha dado a vez me diz:"estava cheio de pressa, não era?!"
Felizmente a situação ficou por ali, certamente deram um desconto ao senhor e ainda bem!
Só quando temos por perto, alguém que conhecemos e estimamos, com deficiência visual, é que percebemos, que muitas vezes, há locais, que ainda lhes falta alguma coisa, para estarem mais acessíveis a pessoas com esta particularidade.
Um supermercado mais acessível, teria, por exemplo:
Na entrada, sinalização sensorial no chão, vi algo do género numa passadeira na estrada aqui .
Poderia estar no inicio de cada corredor, no chão algo escrito em braille que identificasse o corredor, por exemplo, "produtos de higiene" , "massas", "cafés" onde, suponho que com a ajuda da bengala de apoio, desse para se conseguir de forma mais fácil, obter essa informação.
Nos produtos, também em braille, rótulos com os nomes dos produtos, características e até datas de validade.
Para quem vê mal, seria bom haver rótulos com letras grandes e legíveis
As prateleiras com fácil acesso, com espaço confortável de aproximação frontal e lateral.
Talvez sinais/voz sonoros para os ajudar a perceber quando os caixas estão livres.
E a operadora de caixa de caixa teria formação para tratar, com paciência e leveza, cada tipo de situação.
Assim a ida ao supermercado já se tornava mais fácil, e poderiam ser mais autónomos.
Certamente, estes clientes especiais, os seus familiares e pessoas próximas ainda teriam mais algumas coisas a acrescentar. Se quiserem deixem ideias!
Encontrei numa pesquisa, um carrinho de compras, que auxilia invisuais
A notícia não é de agora, mas acho que este carrinho ainda não deve ter chegado a Portugal. O carrinho conta com uma barra sensível ao toque na qual a pessoa põe as mãos para o mover. O cliente pede e segue instruções através de inteligência artificial por uns fones no ouvido e microfone. Ao chegar às prateleiras, o consumidor terá o nome dos produtos escritos em braile. O carrinho também conta com sensores para obstáculos ou até ou pessoas.
Um senhor, com a idade de 87 anos, demonstra ter uma ótima memória!
Ele sabe o número de contribuinte, dele, e dos outros membros da família. Ele sabe de cor, além do seu contribuinte, o número de utente, o numero da segurança social, o número do cartão de cidadão! Além disso, sabe os números dos telemóveis das filhas.
A memória do Sr em relação a números é impressionante, ele disse-me todos os números, praticamente sem hesitar!
E o melhor de tudo foi, naquele momento, o poder ouvir. Eu fiquei maravilhada, e ele feliz por poder ter partilhado cheio de orgulho, esta virtude!
Uma cliente, pergunta-me se pode "desassociar" o número de contribuinte do seu cartão continente, porque como tem o número da empresa, para a qual trabalha associado, e tem pedido para que não coloquem esse contribuinte, mas já se enganaram, e meteram. O que gerou uma grande chatice!
Pedi desculpa à senhora e disse-lhe que o nosso sistema tinha mudado recentemente, e que agora temos de fazer a operação de outro modo, e que certamente a funcionária, não deve ter dado conta. Mas disse para ir ao balcão, e mudar o contribuinte. Ela disse que não queria mudar, queria mesmo retirar!
Esta mudança, no inicio gerou alguma confusão, mas falando por mim, já me começo a habituar, e, creio que ainda vão melhorar e simplificar!
Depois de tanto tempo neste trabalho, mesmo não sendo da localidade, mesmo não conhecendo de outra parte os clientes, vou criando afinidades.
No meio de tantos clientes, hoje queria destacar aqueles, que nos conseguem animar, que nos conseguem fazer rir. Aquele cliente em especial, que está sempre, mas sempre, bem disposto, a fazer rir, a baralhar, a fazer partidas, a dizer disparates!
Tudo isto para falar de um senhor, que todos conhecemos pelo seu bom humor e brincadeira. Vai sempre acompanhado pela esposa que também entra nas brincadeiras. São pessoas do bem.
No entanto, chegou até ele um problema de saúde, que não sei qual é, mas sei que é grave, e que o tem debilitado muito. Uma das últimas vezes que ele esteve na minha caixa, estava muito calado. Perguntei se estava melhor, disse-me que não! Até lhe disse:" hoje nem lhe apetece implicar comigo!?" Acenou-me que não!
Ultimamente a esposa vai sozinha ás compras e ele fica no automóvel. A esposa da última vez que esteve na minha caixa, disse que ele continuava a não estar bem. Chorou, até.
Espero que haja alguma forma de tratamento que lhe dê qualidade de vida para que ele melhore, e volte com a sua boa disposição, que volte a animar, que volte a ser chato e a pregar partidas, porque nos faz falta, muita falta pessoas assim!