Certa vez, estava a atender uma jovem mulher, percebi que ela não me entendia, julguei que fosse estrangeira.
Falei mais devagar e palavras simples, mas a situação, não se alterou.
Entretanto, chegou outra pessoa que a acompanhava e comunicou com ela por gestos, linguagem gestual. A pessoa que acompanhava esta jovem mulher era portuguesa.
Pensei para comigo, “se sei as palavras básicas em francês e inglês ou até espanhol”, porque nunca tentei aprender o básico da linguagem gestual, assim pessoas como esta cliente, poderiam ser compreendidas e melhor ajudadas!
Talvez por trabalhar num sítio de atendimento ao público, muitas pessoas me conheçam. No entanto, eu tenho alguma dificuldade em reconhecer caras, e, por vezes as pessoas metem-se comigo, cumprimentam-me e eu fico sem saber dizer, de onde as conheço.
Sempre fui assim com caras, sempre tive dificuldade em reconhecer rostos. Não sei se terei um distúrbio com o nome de Prosopagnosia.
Acontece muitas vezes as pessoas virem falar comigo, e quem está comigo perguntar "quem é?" e eu não saber responder, e, algumas vezes, nem serem clientes do supermercado onde trabalho, mas até colegas, ou pessoas que me conhecem de outros ambientes, incluindo familiares.
Muitas vezes, o que me vale é que posso esquecer um rosto, mas a voz, eu dificilmente esqueço, já a cor do cabelo, é melhor não me guiar por aí, porque é algo que as pessoas mudam com alguma frequência!
Por isso, não me levem a mal, se eu não vos reconhecer no imediato!
Actualização dos clientes do costume, ou os clientes repetentes.
Então:
O Sr. Boa Disposição/fala barato, mudou-se para Espanha, e só cá passa de vez em quando.
O homem da rádio, também já não vem todas as sextas feiras como era habitual, mas sempre que vem, é a mesma simpatia
O Sr. Provérbios continua a passar por cá, embora com menos frequência.
O Cómico de serviço e a sua simpática dama, são praticamente visitas diárias, que sempre nos animam.
Há uma senhora que tem animais, já falamos das suas ovelhas, e também trabalha com artesanato, faz casinhas e figuras em miniatura. É sempre bom o bocadinho que converso com ela.
Outra senhora, que agora não vejo tanto, mas que tenho saudades. Recordo me de me ter contado como a sua gata, ficou tripé.
A simpática família Madruga, um casal de reformados, mas ainda relativamente novos, com o filho. Agora vai mais o casal, pois o filho deve trabalhar. O Sr diz que gosta de se levantar sempre às 6h da manhã!
O casal BertoLimpa. Esta designação pelo nome e pelo facto de o Sr dizer que o "saldo é para limpar !" Têm uma netinha linda que muitas vezes os acompanha!
Um casal de velhotes bem simpático, em que a senhora tem duas gatas e como eu tenho dois gatos, o tempo que os estou a atender a nossa conversa gira á volta dos felinos. Por vezes a filha deste casal vai com eles, ou são eles que vão com ela, não sei bem!
Duas clientes mãe e filha, loiras. Um dia a senhora mais velha ia sozinha e sentiu -se mal, quase desmaiou à minha frente. Foi um alívio a rever um ou dois meses depois.
A mulher de vermelho, uma cliente que gosta de vestir vermelho, e, por isso, por vezes, é vista como funcionária e os clientes, perguntam-lhe coisas, como por exemplo, onde é que estão determinados produtos, e ela se souber, ajuda!
Um casal de velhotes, em que a senhora acumula saldo no cartão, e sempre diz "não desconte nada, o saldo é para o Natal"!
A avó Nostalgia, uma senhora com uma dura história de vida, mas que está na luta. Tem já netas, e uma delas, vem muitas vezes com a avó ao supermercado!
O Senhor do Pente, também é um cliente habitual dehá vários anos, quando tira a carteira para pagar dá para ver que tem um daqueles pentes antigos castanhos!
O senhor do Pão que é cliente praticamente diário, vai sempre ao pão e já me confessou que gosta muito do nosso pão!
A Empata filas. Vai, habitualmente com o filho e a mãe. A mulher faz sempre a fila parar, ou porque se esqueceu de alguma coisa, ou porque vai imprimir cupões, ou seja por que motivo for, é sempre um stress atender este pessoal!
O senhor dente d'ouro ouvi dizer que tinha falecido, certo é, que nunca mais por cá o vi.
A Mestre-Cuca, uma senhora que é uma boa cozinheira e os seus pratos e petiscos, são bem conhecidos na localidade!
A dona Cesta, senhora muito simpática que tem uma daquelas cestas antigas, que me leva para a infância!
Animaleza, uma senhora idosa, que disse numa campanha solidária, que preferia ajudar animais em relação a pessoas, porque gosta muito de animais e tem cadelas e as pessoas a desiludem!
Um casal muito Gentil, o Sr trata-me por dona Anabela.
As irmãs da 5ªfeira, duas senhoras que são irmãs e vêm juntas á quinta feira. Uma delas começo a notar nela a perda de algumas faculdades!
A Senhorita 100 que a identifico assim, porque sempre diz, sem contribuinte, sem descontar o saldo!
Um casal de velhinhos, que o senhor sempre me dizia" desculpe lhe estar a dar trabalho", soube que o senhor faleceu, e certamente a esposa está com alguém, pois nunca mais a vi, por cá.
O Sr Colacao , um velhote que leva montes de embalagens de cola cao, porque não usa açúcar, então adoça tudo com isto, seja café, leite, chá. Despede se sempre com a frase " Deus lhe dê muitos meninos e dinheiro para os criar"!
A dona Vicência, não sou de mencionar nomes, mas este nome é especial e raro,. É o nome daquela foi minha tia, minha segunda mãe, minha melhor amiga.
Um senhor super bem disposto - que chamam de doutor - que vem com a empregada, também continua a visitar este supermercado.
A tia da Alice, não conheço a miúda, mas conheço a tia, que é a muito orgulhosa desta sobrinha.
A dona Geleira que quer seja de inverno ou de verão, leva sempre uma geleira azul com aqueles blocos azuis, para ter principalmente, o peixe, sempre fresco!
O senhor que tinha a esposa acamada, há muitos anos. Para mim é o Cuidador com muito amor e dedicação, tem uma história de vida bastante dura, também já algum tempo que não o encontro. Espero que esteja bem, na medida do possível, dada a situação da esposa!
O senhor Aranha que tem uma aranha tatuada na mão, também é repetente, ele é um pouco chato, mas tento ter paciência, pois certamente, não deve ter muito mais gente, para o ouvir!
A senhora Cool que tem alguns gatos e cães, e até aves, é sempre um gosto, conversar com ela.
A Busca folhetos, senhora que não me inspira muita confiança, porque tentou levar peixe sem pagar, também por cá continua.
A senhora Tá-no-ecrã que diz sempre, que o contribuinte está no ecrã!
A senhora que é muito pachorrenta a arrumar as compras!
O casal Cortês, em que a sra é sempre muito cordial e amável. Certa vez perguntou me se o marido lá tinha estado, e eu não me recordava da cara do marido, porque ela é carismática, mas o marido tem uma aparência comum e difícil de memorizar, na minha perspetiva!
O senhor Espirituoso, vai com a esposa, sempre me pergunta se o meu gato ainda mia! Também são pessoas que gostam e tratam bem animais!
As 3 manas . Três senhoras já com alguma Idade. Marcam encontro ao domingo no supermercado.
O avô e a neta, ambos muito simpáticos e a menina muito educada e generosa!
O menino da família, vai com a mãe e a avó, é super divertido e falador. Gosto muito dos momentos com eles.
A gateira da quinta, foi ela que nos deu um gato. Desde a pandemia que não a vejo, sinto a sua falta e gostaria de saber se está bem!
O Sr. que cheguei a chamar "Blacktie" na altura, que ficou viúvo, perdeu a esposa numa situação inesperada há cerca de 10 anos. Cliente do jornal, o Público. Entretanto tem uma nova companheira, mas vejo-os mais nas caixas self service.
Uma senhora já avó (através do filho homem) que perdeu a filha para um cancro. Já a vejo poucas vezes, acho que a senhora nunca recuperou o desgostou. É uma perda pela qual, ninguém deveria passar.
O Velhote castiço, que gosta muito de ser atendido por mim, gosta de conversar e eu também me sinto lisonjeada pela o seu apreço!
O Mr. Bigodes, que me chamava de escritora, de Agatha Christie, que foi ao "Preço certo" da RTP, deve ter deixado de frequentar o "meu" continente.
A mulher com sotaque da Nazaré, que estava sempre a contar tostões e que eu achava ter dificuldades, mas afinal tem posses, apenas é forreta! Está sempre a demonstrar pressa e a pedir para passar na fila porque tem sempre só dois ou três artigos.
O Casal Hábil, prático, despachado. Têm tudo eletrónico, não sai qualquer papel, e não é um casal jovem, mas são tudo prafrentex. E de extrema simpatia!
O cliente "Multiplica", há um mais antigo, mas não é o único. É uma mania que me deixa stressada, põem um sumo de laranja e dizem "ora são seis destes", mas depois há também sumos de maçã, só que para o cliente está tudo bem, porque o preço é igual! Mas não, não é assim que funciona, cada sabor tem um código diferente, mesmo que seja o mesmo preço! Por vezes, o melhor é o cliente meter tudo em cima do tapete!
Muitos outros clientes repetentes, por cá continuam. Gosto de os "retratar". Alguns de outras postagens, já nem me recordo bem deles. Uns que marcam, outros que partiram, outros que estão a chegar. Um universo sempre a gingar!
Foi um senhor velhote, bem simpático, que começou a dizer-me esta frase [bem disposta, trabalha no que gosta!], já passaram alguns anos, mas sempre a recordo com carinho, até porque, ele a continua a repetir!
Quando chego, já havia filas nas outras caixas, por isso peço para passarem para a minha caixa, pela mesma ordem.
Um senhor "fura" descaradamente a fila, quase derrubando as outras pessoas. Então eu digo que tem de esperar, porque há pessoas à frente. Vai, ele responde, com altivez : "Pois, mas eu tenho prioridade, algum problema!?"
Não percebi a razão de ter prioridade, pois se o senhor tinha algum problema, não era visível!
Ninguém reclamou. Se alguém tivesse dito alguma coisa eu teria de perguntar, porque há casos em que a pessoa prioritária tem de ter um documento.
Aqui há uns anos, quando perguntei a um senhor o porquê da prioridade, ele levantou a camisola e havia tubos no corpo dele, quase caio pro lado, (acho que já mencionei esta situação no blogue) por isso tento sempre compreender, antes de perguntar!
Também gostaria de sugerir que o cliente prioritário dissesse, caso não seja visível, o motivo da sua prioridade ou então mostrasse algum documento, não pela operadora de caixa, mas por consideração aos outros clientes que estão há algum tempo na fila e merecem esse cuidado!
Depois de uma situação menos boa com uma cliente, eis que chega uma mãe com dois filhos um bebé de dois anos sentadinho e outro menino de seis anos.
Só posso dizer que já não me ria assim de gosto há algum tempo. O menino era um tagarela, mas era uma graça. Por vezes tinha dificuldade em acompanhar a sua conversa, mas ele repetia o que eu não percebia.
A mãe só o mandava calar, mas ele estava elétrico, se se calava por uns segundos, logo retomava a sua narrativa. Contudo, foi sempre muito educado, só tinha muita energia acumulada, com certeza!
São também estas situações engraçadas e estas crianças que nos alegram o dia!
Como já aqui disse, eu não sei os nomes dos clientes, quando os retrato, uso alguma caraterística que os identifique. No entanto, esta senhora, a dona Vicência tem um nome muito raro, mas que me diz muito. Tem o mesmo nome que a minha saudosa tia. A tia que foi a minha segunda mãe, a minha confidente, companheira, melhor amiga. Afeiçoei-me a esta senhora não só pelo nome, mas também porque percebi que tinha em comum com a minha tia, a doçura de pessoa!
Há uns meses, uma cliente, sentiu-se mal à minha frente. Ela até se sentou na cadeira da operadora de caixa à minha frente que não estava ocupada.
Saí da minha caixa e fui lhe perguntar se ela sentia mal, vinham duas colegas a passar chame-ias aflita e preocupada. Ficaram logo com a senhora e pediram ajuda.
Conhecia a senhora dali, via-a muitas vezes com a filha, sempre simpática, educada e bem disposta.
Entretanto contactaram a família, chamaram o INEM, mas já não assisti ao resto porque a levaram para dentro.
Durante algum tempo não vi nem a senhora, nem a filha, as minhas colegas também não.
Mas não me esqueci da senhora e andava ansiosa por notícias.
Até que há dias a vi na minha fila, e logo me veio um sorriso por a ver bem, que ela retribuiu. Até lhe disse o quanto já me tinha lembrado dela. Lá me contou como foi, e nos agradeceu por termos sido atenciosas com ela. Da minha parte até nem fiz muito, porque estava a atender clientes, mas a senhora foi uma querida nas palavras que nos dedicou!
Confesso que foi uma grande satisfação a voltar a ver . Há tantos anos aqui, já há esta proximidade! É este lado humano da profissão que tanto gosto!