Estou a atender um senhor. No inicio pergunto se precisa de saco. No final faço as restantes perguntas habituais, incluindo a "quer o número do contribuinte na fatura?" Responde que não! Prossigo para o pagamento. No final sai um talão do tamanho do número de artigos que levava e por isso não era pequeno.
Quando vou entregar o talão, fica a olhar para mim sem o receber e eu com o braço esticado. Diz-me: "Mas eu disse que queria isso para o email!" Ao que eu respondo que só vai para o email quando é com contribuinte e ele responde: "Não, eu disse que queria que fosse sempre!" Ainda tentei explicar que achava que não era possível, mas ele saiu e disse que ia já tratar do assunto!
Eu julgo que não expliquei errado. Talvez ainda chegue essa opção, mas para já, o que sei, é que a fatura só vai para o email quando tem o número do contribuinte!
Estava a atender um casal, talvez na casa dos 65 anos.
A senhora passou para o lado de saída para arrumar os artigos, o senhor ainda estava com o carrinho no lado de recepção dos artigos. Quando este estava a empurrar o carrinho para a esposa, e como levava os sacos em formato de balão uns sobre os outros, levantei me para espreitar o seu interior. O senhor, muito ofendido, pergunta-me se estou a achar que ele leva coisas lá escondidas. Digo-lhe que estou a fazer o meu trabalho e aponto para um escrito que lá está, onde pede para os clientes colocarem todos os sacos, inclusive os que trazem de casa, em cima do tapete.
Mas ele continua a reclamar. E pergunta de novo se acho que alguém ia levar lá alguma coisa. Como já estava a ser desagradável e não respeitar uma regra da empresa, respondo "não seria nem o primeiro, nem o segundo, nem o décimo!" E ele volta a dizer mas "Mas eu!?"
Eu respondo que não o conheço, e mesmo que conhecesse é uma norma igual para todos.
A esposa disse- lhe "deixa não vale a pena"! Como se eu é que estivesse errada na atitude!
Também lhe disse que não percebia a atitude dele e que quem não deve não teme.
Uma colega viu a situação, e até lá foi perguntar se estava tudo bem e se eu precisava de alguma coisa. Talvez tenha sido aí, que o senhor baixou a guarda.
Não sei quem era o senhor, se calhar alguém famoso ou conhecido, mas não para mim. Para mim era um cliente. Um cliente que não gosta de respeitar regras, pessoas, que não teve uma boa formação. Mal educado, mesmo.
Mas esta situação acontece muitas vezes. Ainda há dois dias uma senhora me disse que as pessoas do Cartaxo são muito desconfiadas dos clientes. Respondi, "pois infelizmente temos razões para isso"! E ela respondeu que em Santarém confiam nas pessoas.
As pessoas não sabem, ou não querem saber, ou até lhe dá jeito que não se observem os sacos.
Também há dias, se eu não tivesse pedido para ver os sacos, a cliente levava peixe sem pagar, pois só quando fui ver os sacos é que me disse " ah também está aqui o peixe"! E já estava no lado de saída. Se eu fosse aqui a enumerar os artigos que já tentaram passar sem pagar, infiltrados nos sacos...
Se todos os supermercados tivessem esta norma, iam se surpreender com a quantidade de artigos que se infiltram por baixo dos sacos, por dentro, de lado e até entre os que estão dobradinhos. Quem nos dera que os clientes mostrarem os sacos fosse uma norma geral e obrigatória em tos os supermercados. Iam ver o número de roubos/quebras a descer.
Até parece que nós é que somos os desconfiados, os cliente têm sempre razão, são sempre corretos, bem formados, bem educados e nunca levam nada sem pagar, a não ser que o artigo lá vá cair...
Estou tranquilamente a registar os produtos a uma senhora, que está acompanhada de outra jovem, talvez filha. Cada uma tinha um saco, e iam embalando os artigos.
A dada altura diz-me: "escusa de estar com pressa, que eu vou arrumar as coisas ao mesmo ritmo"!
Digo: "desculpe!?" ela diz: " escusa de estar com pressa, que eu vou arrumar as coisas ao mesmo ritmo, está bem?"
Respondo: "está bem"!
Ela diz em tom altivo, "obrigado"!
Ora se há coisa que eu sempre tenho em atenção é registar em função do cliente. Nunca fui de registar e atirar os artigos à pressa, porque quando me fazem isso (e há sítios que o fazem), e eu sou cliente, não gosto, ninguém gosta. Acelero um pouco se vejo que o cliente está com mais pressa e a acompanhar o meu ritmo.
Mas enfim, esta senhora certamente vinha mal disposta de casa e precisou de aliviar o stresse em alguém, tadinha!
Pergunto a um senhor se tem cartão continente, ele não responde. Repito a pergunta ele responde: "ESTOU A ABRIR O CASACO!"
Espero mais um pouco, ele retira o cartão continente mostra-mo e diz: "Esta aqui, mas não vale a pena, isto nunca dá nada"! Pergunto se quer o número do contribuinte na factura, responde que não. Paga com multibanco.
Depois do pagamento e do talão ter saido diz: "ah mas passe o cartão que quero descontar o saldo"!
Quem me conhece, sabe que tenho algumas causas. Que, sem qualquer ordem de importância, são por exemplo :
Relacionadas, com animais, mais especificamente gatos de rua, mas também contra todo e qualquer tipo de mal trato a animais. Depois outra causa que sempre defendi, tem a ver com o ambiente, com a redução do uso do plástico e hábitos mais sustentáveis, reciclagem, etc. O que faço é apenas uma gota no oceano, mas mesmo assim insisto e não desisto!
Mas a causa que queria aqui abordar agora, tem a ver com o que assisto e constato no meu trabalho de operadora de caixa: atendimento aos mais idosos. Já algum tempo que me preocupo com estas pessoas, pois elas já não têm a rapidez e destreza que tinham, e ninguém se importa. Os outros clientes vão ao supermercado sempre com pressa. Ou porque a seguir vão trabalhar, ou porque vão buscar filhos à escola, ou porque têm qualquer outro compromisso.
Se na fila está uma senhora de idade que demora a encontrar a carteira, ou que se engana a marcar o código do multibanco ou ainda que não encontra o dinheiro, já começam a ficar impacientes. E as pessoas que estão nesta situação, sentem a pressão e ficam ainda mais aflitas!
Ainda há pouco tempo uma senhora disse-me "mas porque é que esta gente não vem a uma hora mais calma, assim só atrapalham quem vai trabalhar"! Referindo-se aos idosos que normalmente entre os dias 8 e 15 do mês vão fazer as suas compras com o mesmo direito que qualquer um!
Eu fico com pena deles, porque eles precisam de fazer tudo a um ritmo mais devagar. Claro que também gostam de conversar, e muitas vezes tento não dar motivo para grandes conversas, mas sei que certamente ficariam felizes com uma conversinha.
Claro que também há aqueles idosos que por eles ficavam lá na ronha o maior tempo possível, mas também há outros que precisam de mais tempo, para organizar as compras, para pagar e para seguir...
Não tenho ainda nenhuma sugestão para este problema social. Sei que criar caixas exclusivas para eles, poderia os fazer sentir "velhos" ou discriminados, e não chegaria nem uma nem duas dessas caixas por lojas. Acredito que nas grandes cidades, talvez esta situação não se note tanto. Talvez seja um problema de localidades mais pequenas e mais rurais.
Da minha parte tentarei sempre ajudar, tentarei ter calma e paciência. Porque, por agora é tudo o que posso fazer!