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A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

Não estava a ouvir nada

 

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Há momentos em que a comunicação com os clientes se torna bastante difícil, devido ás máscaras, ao acrílico, ao rádio.

Eu perguntava a  uma cliente apenas se tinha cartão cliente, e ela não percebia, falava mais alto e ela nada. Cheguei a pensar que fosse estrangeira, já que  aparecem diariamente ali alguns.

Mas depois percebi que era portuguesa, porque me disse "espere aí que eu vou subir um pouco, a ver se percebo"! Mas diz-me isto a mexer no elástico da máscara. Supus que ia tirar a máscara e eu disse com o dedo "não, não tire"! Aí já percebeu, pois respondeu: "não vou tirar a máscara,  vou subir, mas é o som do aparelho dos ouvidos"!

Enfim...

E a luta continua...

Neste sábado foi mais um dia daqueles que nos deixam cansados e com vontade que chegue a hora de ir embora dali.

Uma senhora só com um artigo, pede a vez, é lhe concedida. Mas a senhora esta com uma máscara no queixo e outra na mão. Tive de lhe pedir para colocar devidamente a máscara, tive de lhe pedir para esperar no sitio certo.

Atendi um jovem casal que me faziam perguntas. Perguntaram se não tinha álcool gel no fundo da caixa para as pessoas desinfetarem as mãos. Respondi que havia na entrada e na saída da loja, mas ela insistiu que tinha de ter ali no fundo da caixa. Eu tento sempre higienizar o tapete de saída, quando a pessoa está a pagar com multibanco, mas como a cliente anterior tinha lá a mala não consegui limpar em todo o lado, e este casal questionou logo se eu não limpava aquilo. Depois falavam entre eles, e apontavam defeitos. Deviam de ser da ASAE!

Uma senhora ia começar a colocar as coisas no tapete quando já lá tinha uma pessoa para atender, peço-lhe para aguardar, e ela, não gostou. Depois quando o cliente que estava a atender saiu e o que tinha os artigos no tapete passou para o outro lado, disse para ela por os artigos, respondeu "agora também não ponho, só ponho quando esse senhor sair"! Birras de adultos, não tenho paciência!

Outro casal, este de mais idade, a senhora passou para o  outro lado, quando o cliente que estava a atender, ainda lá tinha os artigos e nem tinha ainda pago.  Encostou-se no tapete quando havia lá gente. Depois começou a chamar o marido para vir. Foi aí que me passei e disse "desculpe a senhora tem de esperar, a senhora nem podia ter passado para aqui, quando ainda aqui está uma pessoa. Tem de ter calma e esperar um pouco"!

Depois foi a repetida e velhinha história das caixas de cerveja que mesmo com aqueles de centímetros de acrílico, insistem em entregar em mão. Até para os clientes é mais fácil deixar no tapete e esperar que o tapete traga a caixa até nós. Devia de haver um cartaz a informar que os artigos para colocar no tapete e na zona verde! Mas será que ninguém repara na sinalética do tapete, nem no acrescento do acrílico!?A caixa em que eu estive já tem o acrílico todo riscado da avareza dos clientes.

Um casal de clientes que deviam de embalar as compras no topo da caixa, o senhor vai mesmo para o meu lado. Aproximava-se cada vez mais tive de lhe dizer para ir para o topo!

Isto não está fácil!

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A luta diária de uma operadora de caixa

Hoje foi um dia difícil no supermercado onde trabalho. Passei o tempo todo a chamar atenção por uma coisa ou outra. A maioria aceitava e até pedia desculpa, mas outros tinham que discordar ou questionar.

Houve uma altura em que estava a concluir um atendimento, quando olho para o tapete tinha quatro pessoas , perguntei se estavam todos juntos, disseram que não, então tive de pedir para voltarem atrás porque não podiam estar todos em cima uns dos outros. E um cliente diz "então se estivéssemos todo juntos já podíamos, mas qual é a diferença?" Ao que respondi "se fossem todos da mesma casa o contágio era entre vocês, assim é diferente!" Abanou a cabeça, certamente por achou que a minha resposta não era satisfatória.

Depois há pessoas que  passam pela caixa dando  toques no  cliente que está a ser atendido, e nem desculpa pedem. Nem tinham de passar por ali. Há um local para saírem sem compras, sem incomodar ou empatar e até tocar quem está a ser atendido na caixa.

Depois há aquelas pessoas que devem de ir ter ao supermercado sem querer, apenas caem ali de para-quedas, ou sei lá, não levam as coisas que precisam do carro, sacos, carteiras, carrinho de compras cupões, só empatam.

E as senhoras demoram tanto tempo a pagar, tiram a carteira dos cartões, depois tiram a das moedas, depois metem  na mala, retiram de novo. E depois ainda ficam a fazer sala em vez se seguir e dar lugar aos outros.

As pessoas adultas são mais indisciplinadas que  as crianças, porque as crianças aprendem, aceitam, percebem e obedecem, estas não!

Quando me dizem "a ver se a pandemia acaba para ficarmos mais à vontade", eu só penso "espero que mesmo com o fim da pandemia algumas regras fiquem".

As pessoas andarem a chocar umas com as outras; as pessoas estarem em cima umas das outras no momento do pagamento; a falta de privacidade; o estarem a soprar para cima da operadora; o estarem quase em cima do nosso teclado; os clientes darem nos os artigos em mão pela frente, principalmente os mais pesados . Nada destas coisas me farão falta ou saudades, pois sempre foram comportamentos incorretos!

Eu sei que estou ali para trabalhar, e tudo faz parte, mas há dias em que me sinto cansada psicologicamente. Há pessoas que vão lá semanalmente, e fazem sempre os mesmo erros, tentam sempre ludibriar, tentam sempre "pular" as regras, não por desconhecimento, mas por implicância.

É uma luta diária para que se cumpram regras de saúde  de segurança! Que bom seria se o vírus se fosse embora, mas que as pessoas adotassem as regas básicas de civismo, só mesmo as mais básicas!

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Os que marcam pela diferença

Estava eu numa caixa ao fundo da loja, onde há cerca de dois anos, era a entrada para o supermercado.

Estava distraída com o atendimento, e com os clientes que estava a atender, não dei por um grupo de pessoas chegar até perto de mim, porque julgavam que seria  ali a entrada. Só dei por eles quando começaram a falar alto, de modo  agressivo,  zangados por a "porta" não abrir. Ora não existia ali porta alguma, apenas um vidro.

Apanhei um susto enorme. Entretando lá houve alguém que percebeu que a entrada, era no inicio da loja por onde eles já tinham passado.  Era um grupo grande com mulheres, homens, crianças e até bebés. estavam quase todos vestidos de preto, com as mascaras e as roupas sujas, notei até pelo menos uma senhora tinha um trapo branco a servir de máscara.

Depois de andarem por dentro da loja, mesmo sem os ver, ouvia-os da minha caixa, falavam, ralhavam, as crianças choravam. Uma parte deles foi para a minha caixa e a outra para outra caixa. Na minha caixa com o carrinho que tinham davam cacetadas no carrinho do cliente que estava à frente, ainda tentei chamar atenção, mas ou não ouviram ou não quiseram saber, mas tive receio de insistir.

Quando começo a registar um homem pergunta-me se posso lhe trocar uma nota de €50, digo que não. Saiu para ir trocar a nota e ficou uma senhora com um bebé no colo, mais duas crianças pequenas. Uma das crianças derramou sumo para cima do tapete. Conforme eu ia registando a senhora ia atirando os artigos para dentro do carrinho, sem cuidado, nem critério. Partiu os ovos, e partiu uma caneca, um pão saiu do saco, mas não quis saber, deixou até o chão pingado do ovo. Uma das crianças que devia de ter uns 5 anos, lindo de olhos azuis, tinha  narizito ranhoso, mostrou-me uma moeda de um euro e apontou para umas carteiras de legos e perguntou se eu lhe vendia aquilo por um euro. Lá lhe disse que não chegava.

Entretanto chega o homem com um maço notas e  paga. Saíram cheios de pressa, a ralhar e os miúdos a barafustar!

Eu não quero ser mal interpretada, mas se estas pessoas, tiveram um comportamento diferente, fizeram-se notar, deixaram-nos com receio. Não é uma questão de racismo ou de xenofobia, não quero estar com queixas, mas para que todas as pessoas, culturas, etnias, religiões,  sejam vistas por igual, também deveriam ter, um comportamento adequado nos lugares que frequentam, porque mesmo sendo um grande grupo, não estavam ali  sozinhos.

Se todos os clientes fossem em família ás compras, a fazerem aquele espectáculo, seria normal e já estaríamos habituados, mas felizmente não é assim.  Porque se estão em grupo na sua comunidade, podem ter o comportamento que faz parte da sua cultura, mas se querem ser vistos como iguais em sitios publicos  não se comportem de modo diferente! 

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A função do acrílico

Como já aqui disse, acrescentaram do lado da entrada uns centímetros de acrílico, para nossa proteção, havendo assim mais distanciamento do cliente. Mas também temos acrílico atrás, e até lateralmente. Praticamente só no topo não há acrílico,  a ver se as pessoas entendem que é ali que podem estar e arrumar os artigos. Não precisam de se colocar em cima de nós ou entregar  artigos em mãos.  Os artigos são para colocar o mais atrás possível, que depois rolam até nós!

Ainda assim, um dia destes, um casal de clientes depois de colocar todas as compras sobre o tapete, deixando-o tipo torre, o homem queria me ir entregando o que ficou ainda no carrinho , artigo a artigo em mão. Queria entregar um pacote de bolachas depois um pacote de manteiga e assim sucessivamente. Quando lhe disse que não podia ser, chamou a senhora que o acompanhava e disse " ó Fulana já viste esta graça, diz que não posso dar as coisas em mão!" Diz a outra "A sério!? Mas porquê!?"

Noutra ocasião um cliente queria ver um preço e quase se deita no tapete para observar o meu ecrã (até me cheguei atrás), quando do outro lado tem um ecrã só para ele!

E as vezes que os clientes já deram cacetadas no acrílico!? Estou à espera de um dia, ver alguém a partir ou a rachar aquilo. Estão sempre a bater lá, a abanar aquilo tudo! Pode acontecer uma vez sem querer, mas quando o mesmo cliente, chegar a bater lá várias vezes, é estranho!

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Desisti de insistir na janela de pagamento

Andei semanas e semanas a tentar que os clientes fizessem o pagamento pela dita abertura/janela do acrílico. Já estava no bom caminho. Entretanto a dita janela foi corrigida por causa do multibanco, e a abertura ficou mais pequena  e mal lá cabem as nossas mãos para entregar troco, talões. Apenas dá para pagamento com multibanco.

Agora já não insisto, se quiserem pagar lá do topo, que o façam! Inicialmente tinham-me dito que era para fazer tudo por ali, mas depois até quem mo disse, fez o mesmo que os clientes. Para que andava eu a insistir em querer que tudo funcionasse  bem! Há pessoas que vão sempre querer fazer as coisas à sua maneira. Claro que há situações em que não convém vacilar, mas nesta, já não me ralo! Venceram-me pelo cansaço!

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Aqui somos privilegiados

Quando peço a uma senhora para esperar só um bocadinho atrás da linha, porque já tinha um cliente do lado de lá do tapete e outro do lado dela, ela começou a barafustar e a dizer disparates.

Quando me diz "tanta coisa , isto é só aqui!" Eu respondo: "Isso é verdade somos uns privilegiados. Trabalho numa empresa que se preocupa com a saúde  dos seus colaborados e com a dos clientes. Há que dar valor!" Porque aqui, não faltam medidas, regras, o que falta é o cumprimento das mesmas por parte de alguns clientes!

E depois ouvi os clientes a falarem que nem todos os supermercados têm esta segurança!

A dita senhora não mais se pronunciou!

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É assim tão complicado aceitar!?

Quando estávamos em estado de emergência, as pessoas estavam tão  preocupadas que o supermercado fechasse, que  acatavam bem as normas, mas agora,  muitas dessas pessoas, já não estão para isso.

Um dia destes fiquei agradavelmente surpreendida porque tinham acrescentado um pouco de acrílico  do lado da entrada do tapete. Até pensei que assim os clientes já não iam querer entregar os artigos pesados e não pesados em mão porque iam perceber que estando lá o acrílico, não era para o fazer. Além do mais estaria completamente fora da zona verde e justamente na zona vermelha.

No entanto enganei-me, continuam a existir aquelas pessoas, que teimam em entregar coisas pela frente, em mão, só porque lhes dá jeito. É impressionante. Gente que não aceita regras, nem os procedimentos da empresa, nem as nossas instruções. Para este caso só se o incumprimento desse assim um choquezinho, só assim ao de leve.

Cheguei a comentar com uma senhora, ela própria  também  admirada com a relutância de um cliente, que dizia "e porque é assim e não assim, mas para mim era melhor que fosse assim; e da outra maneira dava-me mais jeito", que também me dava mais jeito quando saisse do trabalho não ir dar uma volta enorme a uma rotunda, mas se está lá o sinal, eu respeito!

Outra coisa em que insistem é fazer fila única, quando não fila única, não há uma sinalética que diga haver, não há uma placa, nem o espaço está adequado a isso, estão sempre a avisar no áudio, há colegas sempre a fazer dispersar a dita fila. Até pode haver quem ache que devia de haver, mas se não há, têm que respeitar.

Também já há clientes a quererem passar, pela saída com compras, quando não têm compras, já andam com vontade de se andarem de novo a roçarem/chocarem uns nos outros.

É uma luta todos os dias para que certas pessoas percebam que esta situação  veio mudar o mundo, e estas novas regras, são na sua maioria, comportamentos muito mais cívicos e corretos que os anteriores!

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