Andava muito preocupada com o uso da máscara. Custava imenso, sentia falta de ar, mau estar, dor de cabeça. Sei que não é fácil para ninguém, mas para mim era e ainda é, um tormento. Sempre que ia para o trabalho era um frete, só de pensar que teria de usar aquilo. E eu sou a favor do uso, acho que é mesmo imperativo que se use. Mas daí até ser tarefa fácil, é outra coisa.
Agora estou um pouco melhor com uma máscara diferente. Com esta consigo estar mais tranquila. Só tenho a agradecer á pessoa que sabendo desta minha dificuldade de me adaptar às cirúrgicas me sugeriu esta, que é chamada de máscara comunitária. Como no meu posto de trabalho tenho acrílico, posso usar.
Há dias mesmo complicados, exaustivos. Há momentos em que parece que estamos numa escola, onde as crianças são muito rebeldes e temos de estar constantemente a chamar a atenção pelas asneiras que estão a fazer ou pelas atitudes que deviam tomar e se esquecem. Mas faz parte das minhas competências, zelar para que todas as medidas sejam tomadas de forma a minimizar o risco de contágio!
Aquele dia até me estava a correr bem, as pessoas estavam a ter as atitudes corretas, a conversa com os clientes estava animada e simpática. Entretanto, estava a meio do atendimento de uma cliente, quando chega um casal, aí na casa dos quarenta anos. A esposa começa a colocar as compras no fim do tapete e diz ao marido para ele passar para o outro lado, onde ainda estava a cliente do momento. Quando ele pergunta se pode passar eu respondo que não convém passar por ali. Pergunta e atitude escusada, pois para ele passar, ia quase roçar na cliente que estava a ser atendida, a mesma teria de desviar o carrinho, e não ia respeitar o espaço de afastamento. O senhor foi dar a volta mas a esposa ficou lixada comigo, vi logo pelo olhar e pela atitude.
Quando chegou a vez deles comecei o registo, quem conhece os nossos tapetes de saída sabe que têm aqueles rolinhos para as compras deslizarem para o fundo. Estava eu muito bem a rolar os artigos, quando a madame diz: "ou você passa as minhas coisas devagar ou eu deixo cá tudo!" Respondi que não tinha percebido. Fiz-me de tonta, mas a minha vontade era dizer " acha que eu me ralo com isso, não sou eu que preciso das coisas, por mim pode ir e deixar aí tudo, fica na sua consciência!"
Haja paciência para esta gente intolerante, que não aceita nada, não respeita nada e anda sempre com duas pedras na mão. As birras dos adultos são muito piores que as das crianças, porque as crianças aprendem, estes são demasiado casmurros para isso!
Muitas pessoas já me disseram que "o continente, tem boas medidas, melhor que muitos outros, assim sim, sentimo-nos seguros para vir ás compras!"
Verdade, concordo plenamente. Mas, não é fácil. É preciso estar sempre a lembrar as regras a alguns clientes. Porque existem aqueles que fazem tudo conforme as regras, ou porque já conhecem e é habitual irem ali, ou porque estão de acordo e compreendem, mas existem outros que nos dificultam a vida, que são do contra, que acham algumas medidas exageradas.
Desta vez queria me focar na colocação dos artigos no tapete. É que agora, se é que já repararam, há uma zona verde, outra amarela e outra vermelha. Funciona mais ou menos como nos semáforos, onde o verde é para colocarem os artigos, no amarelo já não é boa ideia e no vermelho é mesmo para não colocarem os produtos. Se forem colocando na zona verde, o tapete vai rolando e os artigos chegam até à operadora ou operador.
Aquele velho e mau hábito de darem produtos à mão da operadora acabou, é zona vermelha! Nada de dizerem que ali dá mais jeito para depois ir logo no fundo do carrinho. Além de não estarem as cumprir as regras do afastamento, também estão a obrigar o colaborador a fazer um esforço físico desnecessário e prejudicial à sua saúde, porque para um cliente, pode ser só uma caixa de cervejas, para o colaborador durante um turno já são umas 20 e ao fim do dia está de rastos, e não é obrigado a isso! A empresa vela pela saúde e segurança do trabalhador!
Desculpem se fui um pouco dura neste assunto, mas teve de ser, não sou só eu, há muitos colegas a se debaterem com isto todos os dias. Tenham paciência e aceitem as regras que são para a segurança de todos!
Como já aqui disse, nós agora temos umas barreiras de proteção em acrílico, e, de modo a passar o cartão multibanco, talões ou o dinheiro, há uma pequena janela, onde apenas cabem as nossas mãos, para entregar o troco, os talões ou para o cliente marcar o código do multibanco. Foi-me dito que era para fazer toda a transação por ali, e para estimular os clientes a fazerem este procedimento.
A maioria dos clientes percebe até brinca com a situação, dizem agora é "à janela"! Mas, como tudo, há exceções. Há quem goze ou não perceba que se recebemos por ali o cartão continente, o dinheiro, é porque, também é por ali, que temos de entregar o talão e dar o troco. Houve um cliente que cinicamente disse: "então isto é porque o vírus não passa aqui por este buraco!" Outra pessoa ficou no topo e eu com a mão para lhe entregar o talão e ela dizia "tou aqui, tou aqui"! Eu sabia onde ela estava, ela tinha de receber o talão pelo mesmo sitio onde tinha feito o resto! Também é uma forma de não estarmos tão próximos do cliente, assim são só as nossas mãos que se tocam e de seguida podemos desinfetar com álcool gel!
Não sei porque tem de haver sempre pessoas a não aceitarem, porque uma coisa é não saberem, aí nos explicamos e pedimos sempre com educação que seja por ali, outra coisa é desprezarem as regras...
É certo que a dita abertura/janela é pequena, como podem ver na imagem que tentei delinear a vermelho, mas consegue-se fazer a transação sem problemas!
Nestes últimos tempos andamos com as emoções à flor da pele, onde somos muitas vezes invadidos pelo medo do desconhecido, pelo receio de apanhar e levar o vírus para casa. Somos muitas vezes confrontados pelos clientes que não querem aceitar as regras, que não têm paciência para esperar, mas também somos surpreendidos por outros que nos demonstram gratidão.
Não sei quem organizou ou de quem foi a ideia, sei que após o relógio da rádio do continente dar as 11 horas da manhã, os clientes começaram todos a bater palmas. Foi lindo olhar à voltar e vê-los todos sincronizados em aplausos. Fiquei emocionada, nem sabia o que fazer ou como reagir.
Apenas quero agradecer a atitude, o gesto nobre. Dizer que estamos todos no mesmo barco, que isto tudo há-de passar, que todas estas regras são pelo nosso e vosso bem, para que não nos faltem clientes, nem a vós vos falte os produtos de alimentação, limpeza e higiene.