Atendo um casal de média idade, talvez aí na casa dos 40 anos cada. A dado momento a esposa está no lado de saída a embalar as compras e o marido ainda está a colocar os artigos no tapete. O marido, pega num produto para o cabelo - um creme para as pontas do cabelo. E surge o seguinte diálogo.
Marido: Isto é para quem?
Esposa: É para mim!
Marido: E para por a onde!?
Esposa: É para eu levar!
Ele pega no produto e fica ali parado a ler o rótulo. Por momentos pensei que o senhor não ia deixar a esposa levar o artigo. E acho que a esposa até ficou incomodada, pois ouvi-a dizer qualquer coisa em voz baixa. Ele colocou o artigo em cima do tapete e também resmungou qualquer coisa que não entendi muito bem...
Parece, que nos dias que correm, nem um pequeno mimo é permitido...
Em anos anteriores, hoje dia 14 de setembro, era o dia do regresso às aulas! A esta altura as últimas compras de material escolar já estariam praticamente feitas e já não se encontravam estudantes e pais a comprarem os últimos materiais.
Mas, este ano, não sei bem porquê, a maioria dos estudantes começará as aulas a 21 de setembro. O que ouvi dizer, foi que os senhores lá da politica, acharam que a começar a 14/09, o primeiro período ficaria demasiado longo!
Muitos pais já não sabem o que fazer para entreter as crianças, os campos de férias já encerraram, os jogos já esgotaram, as ideias para os ocupar já se gastaram.
Então, as compras de material escolar, as correrias e brincadeiras das crianças continuam na zona da feira do material escolar. Ainda há quem não tenha escolhido a mochila!
Uma jovem* senhora, muito bem aperaltada, tinha colocado o separador do cliente seguinte, porque queria duas contas, E disse-me: "os diogurtes são para pagar à parte"!
Eu também dou as minhas calinadas e não sou exemplo para ninguém, mas diogurtes !?
Estava a registar os artigos a uma jovem mulher, a meio do registo a mulher interrompeu-me e disse, ponha só até ao leite. Eu julguei que era para fazer duas contas, o que é habitual acontecer. Ela disse qualquer coisa baixinho que eu não entendi. Vejo-a a contar notas e moedas, e depois diz-me ainda pode juntar um pacotede arroz. Depois de pagar, recomeço a registar, e, é aí, que ela me diz, que o resto das compras não vai levar porque não tinha dinheiro que chegasse! Pedi desculpa por não ter entendido.
Foi uma situação desconfortável para a senhora e eu ainda compliquei... Quando a senhora saiu um dos clientes da fila, que tinha entendido logo tudo desde o início disse, que cada vez mais iríamos ver situações destas, e que, ele próprio , resolveu fingir que estava a olhar para outro lado para não embaraçar a senhora!
Uma coisa que me custa bastante ver é quando os clientes desistem de comprar um artigo fresco ou congelado, e escondem-no ou deixam-no numa prateleira qualquer, onde ele se pode vir a estragar. É preferível deixarem-no na caixa e dizerem à operadora que já não vão precisar dele.
Podem pensar que os funcionários estão lá para tratar disso, mas, nem sempre há funcionários a expiarem essas atitudes dos clientes e depois o produto acaba por ficar estragado. E lá por acharem que o dono do continente é muito rico e que isso não lhe vai fazer diferença alguma, deixar estragar comida é sempre mau!
Hoje e amanhã vão estar vários voluntários (Caritas e IAC Instituto de Apoio á Criança) nas lojas Sonae a pedirem material escolar. O objectivo é garantir que nada falte aos estudantes cujas famílias estejam a atravessar momentos de dificuldade económica. O que estes voluntários pedem, são bens essenciais para o estudo, como cadernos, canetas de colorir, dossiers, mochilas, calculadoras, entre outros.
Neste primeiro dia, e na minha perspectiva como operadora de caixa, acho que está a correr bem, muitos clientes traziam no seu saquinho boas ofertas de material escolar. Também aconteceu, aqueles clientes, mais distraídos, invés de material escolar, trazerem, bens alimentares. Mas depois, eu explicava, e eles voltavam atrás para fazer a troca, e confidenciavam que com a pressa nem tinham ouvido o que os voluntários tinham dito, e como o costume é pedirem comida, deduziam que comida fosse!
Mesmo que seja apenas um caderno ou um lápis, o que importante é ajudar, e como diz o slogan da campanha «É capaz de lhes dizer que não?»