Hoje não vou contar especificamente um episódio passado com o dia-a-dia dos clientes de um hipermercado. Quero apenas deixar uma espécie de agradecimento a estes mesmos clientes. Quero agradecer a simpatia que a maior parte deles me transmite. Fazem-me sentir útil, não me sinto apenas uma operadora de caixa que diz bom dia/boa tarde ou adeus até amanhã e que vai passando artigos.
Quando percebo que aqueles clientes mais assíduos me escolhem mesmo quando a minha caixa tem uma fila maior… e me dizem muitas vezes” ontem quis vir á sua caixa mas a menina tinha muitas pessoas na fila da sua caixa” ou quando me procuram na fila para falar de assuntos triviais. Aquele senhor que é um actor de teatro conhecido e que vendo que eu estava mal da garganta me aconselhou umas pastilhas que também ele usa para cuidar da voz.
Eu não quero de forma alguma me armar em artista mas vou preferir uma frase que muitos deles utilizam:” é bom sentir o carinho do público!”
Para vos relatar como foi o dia 24 de Dezembro no universo do supermercado onde trabalho teria de fazer quase um testamento, já que foi um dia repleto de actividade. Para começar logo às 9h, hora em que entrei fiquei surpreendida pelo facto de o parque já estar cheio de carros. Muitos clientes foram para a porta mesmo antes da abertura da loja. Depois foi a loja sempre cheia. Que caixa me haveria de calhar!? Justamente a caixa prioritária.
Houve um dado momento em que a fila era bem grande e eu disse á senhora grávida que estava atrás para passar á frente não reparando que mesmo á minha frente estava outra senhora também grávida. Felizmente que nestas alturas as pessoas até são compreensivas e tolerantes e acabamos por rir da situação, a fila inteira achou graça e ninguém levou a mal. O público por vezes é fantástico! Um cliente que já lá ia pela segunda vez contou-me que da primeira vez que lá tinha ido tinha demorado uma hora para sair do parque, e estava aborrecido por se ter esquecido de um artigo. Neste dia o tempo passou mais depressa que nos outros dias, achei que foi um dia bem animado…
Porque insistimos nós portugueses (quase todos) em deixar tudo para o último dia!?
Os portugueses são mesmo um povo de tradições. Digo isto porque hoje foi um dia em que passaram muitas e muitas couves pencas pela minha caixa, quase todos os clientes levavam umas quantas destas couves.
Cheguei mesmo a atender um cliente que levava um carrinho cheio, possivelmente tem uma grande família. Esta couve é tradicionalmente cozinhada com o celebre bacalhau (também com muita saída nesta época), na noite da consoada. Hoje o preço do quilo da couve era apenas de quinze cêntimos, um preço acessível a todas as bolsas.
Pois é, hoje foi uma manhã bastante difícil no “meu” hipermercado. O serviço de multibanco não se encontrava disponível para pagamento, nem multibanco nem visa nem o próprio cartão Modelo. O sistema esteve assim desde as 9h até cerca das 11h. Sinceramente até achei que correu bem, as pessoas pareciam compreender bem a situação visto ser usual esta anomalia em época natalícia. Apenas uma cliente resolveu “dar o ar da sua graça” e dizer: “ se não tem condições fechem as portas!” Nem lhe respondi, acho que foi um pouco intolerante. Felizmente havia um multibanco dentro do hipermercado que dava para levantar dinheiro, para além de estarem constantemente a dar a informação pelo som…
Há poucos dias atendia na minha caixa uma senhora que trazia consigo a sua filha, tinha uns cinco anitos. Como todas as crianças parecia muito curiosa, inteligente e falava imenso. Até que a um dado momento começa a mexer muito numas acendalhas (para quem não sabe são aqueles cubinhos que ajudam a acender o lume da lareira), a mãe estava a colocar as compras do outro lado nem se apercebeu. Foi então que ela disse: " mãe posso comer o chocolate agora?" Foi aí que percebemos que a menina tinha confundido aquilo com chocolate. Eu fiquei muito preocupada, imaginem que a criança encontrava aquilo em casa na dispensa e que abria e punha na boca? Enfim, por vezes as embalagens de umas coisas parecem-se com outras, há que ter muita atenção a estas coisas, principalmente quando há crianças por perto.
Como operadora de caixa, posso dizer que tenho uma espécie de amostra de como vão as compras nesta época de natal. Desde segunda-feira até hoje que noto um fraco movimento. Muitas vezes os clientes fazem-me queixas de falta de dinheiro. Hoje mesmo um simpático velhote me dizia que este ano não iria comprar as habituais lembrancinhas aos netos, pois tinha de guardar as economias para os "maus tempos" que se avizinham - palavras do cliente. O que me dá a entender é que as pessoas compram mais bens essenciais do que coisas supérfluas. Preferem cortar um pouco nas prendas, mas pretendem ter a mesa composta no natal.
Também é verdade, aquela velha máxima que o português costuma deixar tudo para os últimos dias, se assim for o hipermercado vai encher dentro em breve!
O Natal é especialmente das crianças. Penso que devíamos transmitir ás crianças que o Natal não é só prendas e Pai Natal, mas também uma data de união familiar. Nestes últimos dias, no meu local de trabalho tenho ouvido muito o choro das crianças. E porquê? Porque há um espaço enorme recheado de brinquedos, ali mesmo na frente dos seus olhos. Estes pequenos choram porque querem que os pais lhe comprem tudo. Eles sofrem e por vezes até dói ver o pranto dos meninos e meninas. Queridos pais nesta época seria melhor, pelo menos para os mais pequenos que ainda não entendem o valor do dinheiro, evitar levá-los para este local. Certamente que basta ver os espaços publicitários da TV para eles escolherem os seus preferidos. Importa é manter o espírito de natal!