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A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

A lupa de alguém

Sou operadora de caixa num supermercado Continente modelo. É esse universo que eu trato neste espaço...

Ai, valha-me Deus, que não chega!

Estou a atender uma simpático e bem disposto velhote, que vai arrumando os seus artigos diretamente no carrinho, porque tinha deixado os sacos na viatura!

A dada altura começa a olhar preocupado para o ecrã, e  diz: "Ai, valha-me Deus, que não chega"! Nesse momento, fico na dúvida se continuo a registar ou  se pergunto ao senhor alguma coisa. Também fiquei preocupada.

Quando termino o registo, peço o cartão continente, pergunto se tem algum cupão e se quer número de contribuinte na fatura.

O senhor disse-me que não sabia se tinha dinheiro que chegasse, e eu disse, "então vamos lá contar". Contei todas as notas, moedinhas...Faltava pouco, cerca de quase dois euros, e como o senhor tinha várias latas de atum de primeira marca, apenas anulei uma. Pediu desculpa, e eu disse-lhe que não havia problema. O senhor foi de uma simpatia, que eu retribui.

Mas custa-me imenso estas situações! Infelizmente não se pode ajudar muito mais...

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A sua pressa, não pode constranger os outros

Estava a atender um velhote , que estava a tentar pagar com multibanco. Já conheço o senhor,  sei que tem sempre dificuldade no processo é preciso dizer todos os passos, com calma.

Entretanto, enganou-se no código. Quando lhe disse ele não ouviu, o acrílico e máscara dificultam a comunicação. Falo mais alto e ele ouve.

Da fila uma senhora, perto até da idade deste senhor,  diz "vá...que estou cheia de pressa!"

Sei que  a maioria das pessoas vão ao supermercado com pressa, mas esta atitude ainda podia  atrasar mais o processo, porque deixa a pessoa mais nervosa!

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O gangue dos seniores vacinados

Agora há mais uma desculpa para não se fazer distanciamento e para quebrar regras:  a malta que já foi vacinada! Acham-se os maiores. acham que já nada os pode derrubar. Culpa de quem os vacinou que não lhes explicou, que mesmo vacinados, podem apanhar e transmitir, ainda que mais leve!

A desculpa da vacina, está a ser cada vez mais usada!

Um dia, um cliente queria entrar pela saída das caixas, disse-lhe que não podia porque não era ali a entrada, mas sim, a saída com compras, e porque para passar ia tocar nas pessoas que lá estavam e então ele responde que já levou a vacina e que por isso não fazia mal tocar em alguém!

Hoje quando chamei a atenção devido à falta de distanciamento, o casal disse para eu não me preocupar porque eles já estavam vacinados, respondi que as regras eram iguais para todos, por enquanto.

Já depois de sair, fui fazer umas  compras, quando já estava na caixa para pagar,   uma senhora meteu-se mesmo  em cima de mim, quando a chamei atenção, respondeu que já estava vacinada e eu respondi: "mas não estou eu, e a senhora não precisa de estar em cima de mim!"

É que mesmo que não houvesse pandemia, é uma falta de educação esta atitude!

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Os velhotes e as vacinas...

Sei que são mais as vezes que partilho situações  negativas do que positivas, porque talvez elas me deixem mais insatisfeita e porque assim consigo dar o feedback ao público de como esta pandemia não deu para "civilizar"  as pessoas, como no inicio todos achávamos, mas para trazer ao de cima, o pior de muitas delas!

No entanto, também há dias bons, pessoas sensacionais, humildes, ordeiras, simpáticas. Consigo até dar pela falta de algumas pessoas, consigo até sentir saudades das boas e até divertidas conversas que costumávamos ter. Embora as conversas hoje em dia vão, quase  todas,  parar à pandemia!

Ontem, atendi dois casais de velhotes, que são uns queridos. Aquele "olá menina. então como tem passado? Há que tempos que não nos víamos!" Um dos casais apenas não tinha  aparecido, para se resguardar, mas o outro...

Quando eu digo que já não os via há muito tempo, a senhora contou-me que "foi o covid"! Então eu pergunto-lhe  se esteve com o vírus e ela responde: " olhe acho que foi pior que ter o covid, fui levar a vacina a astrazeneca, e quase que morria, tive febre, fiquei de cama, parecia que tinha-me passado um camião por cima, tantas dores no corpo, na cabeça, pensei que morria, nunca tive tanto medo, e já tenho mais de 70 anos!"

E depois diz-me que o marido, o senhor que estava com ela, levou a mesma vacina, dois minutos depois,  mas  não teve nada! Também me disse que em junho teria de levar a segunda dose e que agora tinha muito medo!

Tentei tranquilizá-la, mas disse-lhe que dessa vacina também tinha algum receio, mas que como já tinha passado mal da primeira poderia ser que da segunda já não sofresse. Mas disse-lhe para ela falar com o médico de família.

Apesar de tudo isto, e, pelo que tenho falado com os clientes, principalmente os mais velhos, eles estavam contentes com a vacina. Muitos já tinham levado a primeira dose e até há pouco tempo, não havia grandes queixas...

Primeiro vem a pandemia para nos deixar neste caos, depois vem a esperança da vacina, e agora andamos com medo da própria vacina!

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Muita falta de conhecimento e informação

Uma senhora de idade estava com a jovem neta às compras.

Todo o processo estava a correr muito bem, a neta foi  muito pro-activa a ajudar a avó. Chega a fase do pagamento, e a velhota abre a carteira põe a máscara no queixo, pega numa maço de notas de 20€, cospe para os dedos e começa manusear as notas. Peço-lhe para colocar a máscara, vira-se para mim, e na maior  descontração diz-me "e como é que quer que conte o dinheiro com a máscara"!? Como se o dinheiro só se pudesse contar daquela forma. É a neta que convence avó que tem de por a máscara.

Daqui se percebe que ainda há muita falta de comunicação, entendimento e cuidado em relação a esta pandemia. Do que adianta aquela senhora ter levado a máscara, ter provavelmente desinfetado as mãos à entrada, ter feito o distanciamento se depois fez umas das  piores asneiras !?

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As pessoas continuam a ir em grupo às compras

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Quando termino o atendimento a um cliente e chamo o próximo, aparecem logo três pessoas adultas e  uma velhota. Educadamente peço-lhe para aguardar um pouco, porque ela própria tinha os seus artigos. Ela responde "ah esta gente é minha, não faz mal"! É aí que o neto responde " mas tens de respeitar, avó"!

Isto tudo para dizer, que mesmo em pleno 2° confinamento, as pessoas continuam a ir às compras em grupo, e os velhotes não ficam em casa, mesmo os que têm quem lhes faça as compras!

O velhote teimoso e chato

Um velhote teimou que tinha deixado um cupão em cima do tapete, disse-me que eu o tinha. Tirou tudo dos bolsos para me provar que não estava com ele, mas sim comigo.

Pedi a uma colega para reimprimir, passei o cupão e a situação ficou resolvida. Mas, uma hora depois achou o cupão e foi lá o entregar. Digo-lhe que agora já não era preciso, mas ele disse:  "mas tem de ficar aí com ele"!

Para que o caso ficasse realmente resolvido, disse-lhe " está bem"! Daí por uns minutos, voltou à minha caixa para me dizer que as colegas do Mini-preço tinham dito que o cartão  Mini-preço também dava para usar no continente. Primeiro ainda lhe disse que não dava, mas como ele não saia dali e teimava, deixei-o ir com a sua razão!

Nesse dia, foi lá ao supermercado só durante a manhã umas 4 vezes!

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A idade da falsa inocência

Antes eu até podia espreitar para os carrinhos, para dentro dos sacos, mas não tinha a autoridade, que agora tenho, para pedir que os sacos passem por cima do tapete em vez de irem dentro dos carrinhos.

Desde que tenho esta "autorização", quase todos os dias, aparecem uns "brindes".

Naquele dia, não foi exceção. Quando pedi educadamente uma senhora idosa para me passar os saquinhos que estavam dobradinhos no fundo do carrinho, e mesmo vendo a atrapalhação da senhora, julguei que era ela que não me estava a perceber,  não esperava que lá estivessem quatro artigos: um esfregão da marca scotch brite , uma esponja de banho, um rolone e um shampoo para o cabelo. Meteu tudo em cima do tapete e não disse nada.

Podem dizer que foi sem querer. Que são coisas da idade. Talvez, mas tenho dúvidas, porque ela ficou muito atrapalhada!

Já não é a primeira vez que os "brindes" surgem nesta faixa etária!

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É essencial que se mantenha o distanciamento social

Os últimos dois dias (9/10 de julho) foram muito complicados e cansativos. Os principais problemas: as pessoas não aceitam manter o distanciamento e insistem, muitas delas, em andar com o nariz  fora da máscara.

Uma pessoa chega ao fim do turno  esgotada psicologicamente, por estar sempre a dizer e a pedir a mesma coisa: espere um pouco, afasta-se um pouco, olhe tem a máscara a cair.  Até parece que as pessoas andam desertinhas por se roçarem umas nas outras. Gostam de sentir o suor, o calor  uns dos outros, só pode ser isso!

Sempre aqui disse que gostava de fazer o trabalho que faço, e continuo a gostar, mas assim sempre, nesta luta, nesta falta de respeito por parte de muitas pessoas, só tenho vontade é que chegue a hora de sair ou de fazer uma pausa, para desanuviar. Está muito pior agora do que no inicio da pandemia, porque muita gente acha que isto tudo agora já era desnecessário.

Uma senhora de certa idade estava tão junto ás pessoas que estavam à sua frente, que as mesmas fizeram queixa e até disseram que iam chamar a policia. A senhora foi avisada e ainda respondeu que o carrinho dela é que estava encostado ás pessoas não era ela! Barafustou sempre e não admitiu o erro.

Outra senhora também de idade avançada, quando lhe pedi para esperar um pouco na fila porque tinha já duas pessoas para atender primeiro, responde: " Ó menina com a minha idade já não tenho medo de virus"!

Conclusão:  os jovens acham que a malta é jovem, quer é divertir-se e não tem medo do vírus; os velhotes já não têm nada a perder porque já viveram muito e o vírus não os assusta!

Cabe, se calhar, a nós, o grupo intermédio (e que trabalha no atendimento ao público) ter algum bom senso e andar a lutar contra estes pensamentos e atitudes idiotas!

Haja paciência infinita!

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Os rebeldes

Quem diria que nesta época de pandemia, haveriam de ser os mais velhos, a não aceitarem bem as regras, a desvalorizarem, a dizerem "ah se morrer, morro, já vivi muito!"

Pelo menos pensem nos filhos, nos netos, nos que trabalham e zelam pela sua alimentação, saúde, segurança etc.

Sejam um pouco mais tolerantes, respeitadores. Dêem o exemplo. Não se esqueçam que são a faixa etária onde o vírus incide mais.

Pensem um pouco mais nos outros e deixem de fazer birra!

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P.S.

Não tenho com isto a intenção de generalizar e dizer que são todos assim, são apenas, do meu ponto de vista, a maioria.